Como as particularidades da situação financeira das mulheres aparecem nas pesquisas científicas? Embora o conceito de bem-estar financeiro seja universal, um artigo dos autores Virginia Nicolau Gonçalves, Roberta Gabriela Basílio e Mateus Canniatti Ponchio, este último pesquisador da FGV EAESP, busca compreender como o viés de gênero aparece na literatura sobre o tema, visto que as mulheres estão mais sujeitas à discriminação salarial e a empregos de menor prestígio social.
O estudo mapeia pesquisas do mundo inteiro sobre o assunto e identifica três níveis em que o bem-estar das mulheres é afetado. No individual, há especificidades sociodemográficas − como idade, raça e etnia, educação e renda − e psicológicas. No domiciliar, entende-se que sobre as mulheres recai a responsabilidade dos cuidados com o lar e com a família, assim como o fato de estarem sujeitas à violência de seus parceiros ou familiares homens. Já no nível comunitário e social, além dos padrões de trabalho e carreira, os pesquisadores identificam a relevância do contexto institucional e cultural nas trajetórias profissionais das mulheres.
Apesar de apontarem a existência de estudos de diferentes perspectivas e lentes teóricas, os autores indicam lacunas a serem preenchidas por pesquisas futuras. Realizar estudos exploratórios para ouvir as experiências das próprias mulheres, coletar dados em países não ocidentais, explorar os efeitos da violência de gênero e considerar o racismo estrutural e os movimentos migratórios na estabilidade econômica das mulheres e na sua inserção no mercado de trabalho são algumas das sugestões. A iniciativa de levantamento de dados representada pelo artigo tem potencial para subsidiar políticas públicas e programas de educação financeira voltados para mulheres.