Entre os anos 2007 e 2013, uma instituição de ensino superior brasileira incorporou mudanças acadêmicas e gerenciais, como a abertura de capital e a centralização administrativa conduzida por equipes de gestores profissionais. Segundo um estudo de caso dos pesquisadores Thomaz Wood Junior, professor da FGV EAESP, e Andressa Trivelli, mestre em Administração de Empresas pela FGV EAESP, esta universidade pode ser considerada uma organização híbrida, pois combina características de empresas privadas, como a lógica orientada ao mercado, e instituições públicas, que são voltadas ao desenvolvimento humano e às demandas sociais.
Os achados do artigo, publicado na revista “Cadernos EBAPE.BR”, são baseados em 12 entrevistas com gestores e colaboradores da UniOne (nome fictício) envolvidos no processo de mudança de gestão do grupo de ensino, além de observação em campo e consulta a relatórios e documentos. Os autores observam que a empresa ganhou valor de mercado no período analisado. Em 2007, quando houve a entrada de investidores, a cotação das ações da UniOne era de R$7,90. Em 2013, quando o fundo de investimento vendeu sua participação, o preço da ação estava em R$ 17,34.
Esse movimento, à primeira vista, parece corresponder ao processo de mercantilização do ensino superior, descrito pela literatura especializada por características como gestão orientada ao lucro dos acionistas e tratamento de alunos como clientes em vez de aprendizes. No entanto, os autores frisam que este conceito não descreve a UniOne, visto que sua gestão busca atender aos diferentes stakeholders, como os reguladores do sistema educacional – tais como o Ministério da Educação – e os acionistas. Por isso, argumentam os autores, a UniOne se transformou em uma organização híbrida.
O equilíbrio entre qualidade de ensino e lucro na operação foi um dos principais traços destacados pelos entrevistados sobre o processo de mudança. O fundo de investimento apostou na centralização das operações, garantindo padronização no atendimento aos estudantes de todas as unidades. Na gestão do corpo docente, houve a implementação de uma equipe enxuta, com baixa rotatividade, e adoção de planos de carreira e remuneração variável de acordo com o desempenho, além de incentivo a pesquisas aplicadas às demandas de mercado.