Entre 2017 e 2018, uma empresa de cosméticos brasileira enfrentava distorções entre as vendas mensais estimadas e as vendas de fato realizadas às suas consultoras, com erro médio de previsão de até 90%. Devido aos longos prazos dos fabricantes terceirizados para a entrega do produto encomendado, a empresa mantinha estoques até quatro vezes maior do que a média mensal de vendas do produto. Com a redução do prazo de produção e distribuição, o período de armazenamento dos itens em estoque foi reduzido em até um terço no ano seguinte. Assim, ao aproximar os níveis de estoque da demanda real, a empresa obteve maior assertividade na previsão de vendas, com até 70% de redução do erro médio, o que contribui para a eficiência nas operações.
As constatações são de estudo publicado na Revista de Administração Contemporânea, que conta com os pesquisadores Luis Henrique Rigato Vasconcellos e Henrique Fonseca, do Departamento de Administração da Produção e Operações da FGV EAESP, entre os autores. O trabalho é baseado em uma intervenção de 23 meses em uma empresa de cosméticos, e compara os resultados do período de operação baseada na antecipação da demanda – conhecida como lógica empurrada –, vigente entre outubro de 2017 a novembro de 2018, e do período de transição para uma lógica baseada na responsividade às vendas realizadas – ou lógica puxada –, implementada entre outubro de 2018 e agosto de 2019.
No novo sistema, os fabricantes terceirizados comprometeram-se a entregar o produto solicitado em prazos de até 42 dias corridos para fragrâncias e 55 dias para cremes para cuidado com a pele, os dois produtos analisados pela pesquisa, contra os quase seis meses praticados para ambos no período anterior. Com o menor intervalo de tempo até o recebimento do produto final na empresa, o erro de previsão de vendas foi reduzido de 90% para 27% no caso dos cremes para cuidados com a pele e de 61% para 33% no caso das fragrâncias.
Com a aproximação do número de itens do inventário às vendas realizadas, de acordo com a lógica puxada, o nível de cobertura dos estoques foi reduzido de 4 a 2,7 meses para os cremes para cuidados com a pele e de 3,3 para 2,1 meses no caso das fragrâncias. O estudo frisa que a diminuição dos estoques do produto acabado na empresa de cosméticos não ocasionou aumento dos estoques de insumos utilizados pelos fabricantes, que permaneceram estáveis.