A maioria dos estudos sobre liderança no Brasil ainda têm como foco as ações e comportamentos de líderes individuais e relações verticais nas organizações. Nove em cada dez estudos da área ainda utilizam teorias tradicionais de liderança, que focam em aspectos como estilo dos líderes e seu impacto nas equipes. A constatação é dos pesquisadores da FGV EAESP Renato Souza e Thomaz Wood Jr. em estudo publicado na “Revista de Administração de Empresas” (RAE).
Os autores analisaram a literatura científica sobre liderança em 32 artigos publicados em periódicos brasileiros entre 2016 e 2021. A pesquisa verificou a produção acadêmica alinhada às três principais lentes de estudo: liderança individual (a lente do “eu”), followership ou estudo dos liderados (a lente do “eles”) e liderança coletiva (a lente do “nós”).
A lente do “eu”, na qual a maioria dos estudos está centrada, remete a processos de comando unitário, com influência exercida verticalmente, de cima para baixo. “De modo geral, a pesquisa brasileira tende a não considerar a contribuição de outros atores organizacionais, especialmente aqueles que não ocupam cargos formais de autoridade para o processo de liderança”, explicam os autores.
De outro modo, as pesquisas mais raras tratam sobre a submissão de liderados e liderança coletiva. A primeira enfatiza a influência dos liderados nos resultados obtidos pela liderança. Já a segunda enxerga a liderança associada a realizações coletivas, com participação de diferentes pessoas.
Por isso, segundo os autores, estudos sobre liderança no Brasil devem incorporar aspectos que vão além da hierarquia tradicional nas organizações. As perspectivas relacionais e coletivas podem ajudar a entender fenômenos como a liderança compartilhada.