Os riscos da Covid-19 e a falta de perspectiva no cenário pandêmico afetaram a saúde mental de funcionários de empresas nos anos de 2020 e 2021. Já no contexto de retorno ao ambiente de trabalho a partir de 2022, a sobrecarga de trabalho passou a ser o maior fator de impacto negativo na saúde mental dos colaboradores. É o que indica estudo com participação do pesquisador da FGV EAESP Paul Ferreira e da graduanda em Administração de Empresas Taynã Chiodi Appel. A sobrecarga foi citada por 43% dos entrevistados, seguida pela pressão por resultados e metas, lembrada por 31% dos respondentes.
Publicado na revista “GV Executivo”, o artigo analisa a transição do mercado de trabalho para um cenário pós-pandemia e parte de dados referentes ao primeiro semestre de 2022. A pesquisa é baseada em respostas de 572 profissionais brasileiros que ocupam cargos variados, como analistas, gerentes e coordenadores de empresas. A maioria dos respondentes (88%) atua na Região Sudeste.
Para cuidar da saúde mental no trabalho, líderes devem manter escuta ativa
Os autores relatam que 54% dos trabalhadores já sofreram algum transtorno de saúde mental. Destes, 63% afirmam não ter recebido apoio da liderança para lidar com a doença e quase 60% saíram da empresa por conta do quadro. “Os respondentes relataram que se sentem sobrecarregados e pressionados por resultados, sem contrapartida de reconhecimento, o que pode causar episódios de desmotivação, crise de pânico, depressão e culminar em burnout”, aponta o artigo.
Os colaboradores citaram doze benefícios que consideraram mais importantes de serem oferecidos pelas empresas durante a pandemia, divididos em três categorias: serviços de saúde, auxílio financeiro e apoio ao desenvolvimento profissional. Porém, eles dizem que as empresas não comunicam nem implementam oito desses benefícios – como é o caso de programas de saúde mental, prioridade mais citada na pesquisa, não implementados pelas empresas, segundo 67% dos entrevistados.
Os líderes devem criar espaços seguros de conversa e manter uma escuta ativa, afirmam os autores. O treinamento em saúde mental também é uma das recomendações do artigo. “De maneira particular, gestores de equipes devem ter as habilidades para identificar todos os subordinados e responder com empatia e de forma adequada a eles, especialmente àqueles que podem ser mais vulneráveis, uma vez que estão sub-representados no escritório em função de raça, gênero, orientação sexual ou outra identidade”, completam os pesquisadores.