A ascensão de programas empresariais que preparam funcionários para a aposentadoria está relacionada à lógica neoliberal, estimulando projetos de vida com ênfase em novas atividades econômicas. Além de informações sobre saúde integral e bem-estar, as iniciativas de orientação a trabalhadores mais velhos abordam temas como empreendedorismo e planejamento financeiro, o que reforça a narrativa de uma responsabilidade individual dos profissionais pelo seu futuro econômico diante de uma suposta ineficiência da previdência social brasileira.
É o que diz artigo com participação da pesquisadora da FGV EAESP Maria José Tonelli publicado na “Revista de Administração Mackenzie”. Os pesquisadores realizaram entrevistas com nove especialistas de cinco consultorias que oferecem programas de preparação para aposentadoria (PPA) e de duas empresas que contrataram esses programas. As consultorias estão sediadas no estado de São Paulo, mas prestam serviços para todo o Brasil.
A atuação das consultorias revela diferentes concepções de envelhecimento no mercado de trabalho. Em altos níveis hierárquicos, a experiência de pessoas mais velhas é valorizada, e estas são menos impactadas pelo processo de enxugamento das empresas. O artigo também ressalta que a maioria dos profissionais de alta gerência atendidos pelos PPAs são homens.
Já em cargos operacionais que demandam força física e agilidade, a idade mais elevada é vista como entrave para a continuidade na função. “Verificamos que os PPA operam como uma forma de pacificar conflitos organizacionais ao ‘humanizarem’ as demissões de funcionários mais velhos e de nível operacional, de modo a torná-las mais graduais e previsíveis, reduzindo riscos de processos trabalhistas”, observam os autores.