O storytelling é uma estratégia de compartilhamento de informações através de histórias, bastante utilizada na construção de imagem corporativa e na promoção de marcas e produtos. Porém, apesar de amplamente adotada por empresas, governos e indivíduos, essa narrativa guarda similaridades com as fake news. Embora o conteúdo do storytelling seja com frequência baseado em informações verdadeiras apresentadas de forma plausível, a construção da narrativa é feita de maneira a seduzir o público para um argumento sem comprovação e que pode envolver interesses políticos ou econômicos.
O alerta está em artigo assinado pela pesquisadora FGV EAESP Mel Girão e colaboradores, publicado na revista “Cadernos EBAPE.BR”. Os autores realizaram análise de informações falsas e de narrativas de storytelling sobre a Amazônia que circulam nas redes sociais desde 2019 e identificaram motivação semelhante para o uso de ambos os recursos.
As fake news são conteúdos comprovadamente falsos de vários tipos. Podem ser fabricadas, como o caso de adulteração de uma fotografia da ativista sueca Greta Thunberg por políticos da direita brasileira que criticam seu posicionamento de combate às mudanças climáticas. Podem ser vistas, ainda, no compartilhamento de informações descontextualizadas ou tendenciosas, como em postagens de personalidades alertando para as queimadas na Amazônia no ano de 2019, mas com uso de fotografias que retratam incêndios ocorridos em outros anos ou em outros locais do mundo.
A romantização presente no storytelling também pode naturalizar mentiras ou falsidades, ressalta o artigo. Os autores citam algumas grandes narrativas sobre a Amazônia e seu papel geopolítico que se consolidam como teorias da conspiração, como a ideia de que os países desenvolvidos somente demonstram preocupação em proteger a floresta porque não querem que o Brasil utilize seus recursos naturais e seja um poderoso concorrente. Trata-se de um argumento fundamentado em informações procedentes, como a grande biodiversidade e potencial econômico do bioma. Mas, assim como as fake news, essa narrativa é composta com o objetivo de interferir nas arenas sociais e políticas, frisam os pesquisadores.