Diante do contexto global de crises climáticas e escassez de recursos, o nexo água-energia-alimentos (water-food-energy, WEF na sigla em inglês) – abordagem que integra questões que envolvem esses temas – vêm se tornando um princípio chave na elaboração de pesquisas e políticas mais sustentáveis. A ferramenta é valiosa para entender como as diferentes esferas envolvidas interagem entre si e informar decisões no contexto da governança ambiental. Aos poucos, se torna mais integrativa e completa, permitindo que as instituições possam formular soluções mais eficazes para lidar com os desafios em torno do tema.
A reflexão está em artigo publicado pelos pesquisadores da FGV EAESP Rodrigo Augusto Bellezoni e Jose Antonio Puppim de Oliveira, com colaboradores, na revista “Frontiers in Water”. Para entender como o nexo e suas aplicações evoluíram ao longo do tempo, os autores levantaram 681 estudos sobre o tema na base de dados Scopus, sem intervalo de tempo determinado, e identificaram os principais tópicos abordados em cada fase. Eles definiram cinco períodos de análise: 2012 a 2016, 2017 a 2018, 2019, 2020 e 2021.
Dentre os cinco intervalos analisados, os autores identificaram que, de forma geral, o debate do nexo passou de um âmbito rural – com a preocupação com a gestão de recursos hídricos, agricultura sustentável e produção de biocombustíveis, por exemplo – para o contexto urbano, com a implementação de políticas públicas baseadas no nexo e preocupações relacionadas à redução de poluição e consumo em processos industriais e infraestrutura de cidades, por exemplo.
Contribuições do nexo água-energia-alimentos para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Mais recentemente, as discussões têm se centrado em torno dos desafios relacionados às mudanças climáticas e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, por exemplo. Essas transformações indicam que pesquisadores e tomadores de decisão têm ampliado a abordagem WEF para atender a demandas cada vez mais interligadas entre si no contexto água-energia-alimentos, bem como orientar a gestão de recursos, políticas e programas ambientais pelos governos e autoridades.
Apesar da maior integração dos conceitos entre si, a capacidade limitada das instituições governamentais – que apresentam restrições de orçamento, por exemplo – dificultam a implementação dos objetivos relacionados ao WEF. No caso do Brasil, os pesquisadores ressaltam que as estruturas governamentais, que são fragmentadas, não priorizam os desafios do nexo. Além disso, os autores também destacam que a participação de vários grupos de interesse – os stakeholders – é essencial para que aconteça a alocação de recursos de forma sustentável nos governos.