Dar preferência a recomendações internas da equipe na contratação de novos funcionários pode resultar na exclusão sistemática de candidatos não favorecidos. Apesar da inclusão de amigos e conhecidos aumentar a cooperação entre os integrantes do grupo, o processo levanta questões éticas que impedem o desenvolvimento de um ambiente de trabalho igualitário e socialmente justo. Ao priorizar indicações do grupo, recrutadores podem criar ou reforçar preconceitos, aumentando a discriminação e o isolamento de participantes desfavorecidos.
O resultado está em artigo publicado pelo pesquisador da FGV EAESP Paulo Arvate, em colaboração com Sergio Mittlaender, da FGV Direito SP e da Max Planck Institute for Social Law and Social Policy, e Lisa Lenz, da University of Cologne, na revista “Empirical Economics”. Para investigar como as opiniões dos membros atuais de um grupo afetam a decisão de recrutadores, os autores conduziram um experimento com 264 participantes em Colônia, na Alemanha, em novembro de 2019. O estudo simulou a formação de grupos em que um indivíduo – o seletor – é responsável por escolher entre dois candidatos para a inclusão no grupo, sem apresentar qualquer tipo de preferência, enquanto o restante do grupo opta por um candidato em particular.
De acordo com os pesquisadores, cerca de três em cada cinco seletores decidiram contratar um candidato a partir das preferências de outro membro do grupo. Os motivos para essa escolha podem ser altruístas, expressando uma preocupação com os demais membros do time, ou estratégico, visando maior cooperatividade entre os integrantes – o que os autores chamaram de “discriminação estratégica”. Nas equipes que incluíram um amigo, a cooperação foi cerca de 150% maior quando comparada aos grupos que integraram um desconhecido.
Apesar dos efeitos positivos da maior colaboração entre os membros, como o aumento da produtividade, essa dinâmica leva à manutenção de grupos homogêneos e que reproduzem estruturas de poder. Assim, candidatos desfavorecidos são sistematicamente excluídos, podendo levar à perpetuação do preconceito contra grupos minoritários.
Para diversificar o ambiente e a força de trabalho, empresas podem desenvolver políticas voltadas à inclusão de candidatos desfavorecidos. Uma sugestão dos autores do estudo é aumentar a disposição dos funcionários atuais em cooperar em equipes diversas, atrelando bônus e avaliações de desempenho aos níveis de cooperação nesses grupos, por exemplo. Outra recomendação é impor critérios rigorosos de seleção nos processos de recrutamento, com a terceirização da contratação ou a adoção de sistemas de cotas. Por fim, políticas inclusivas e contato entre diferentes grupos podem ajudar a abordar e reduzir diretamente os preconceitos.