A participação de mulheres no mercado de ações brasileiro ainda é muito tímida, representando apenas um quarto de todos os acionistas do país. No setor de Equity Research, responsável por recomendar ações a investidores institucionais, a presença feminina é ainda menor. Apenas 12% das recomendações de investimento nos últimos 10 anos foram feitas por mulheres.
Nesse contexto, os pesquisadores da FGV EAESP, Alexandra Strommer Godoi e Gustavo Corrêa Mirapalheta, em conjunto com alunos, publicaram um estudo na Revista de Administração de Empresas (RAE) investigando se as analistas mulheres apresentavam maior aversão ao risco e menor otimismo em suas recomendações de investimento comparadas aos homens. O estudo examinou quase 7.500 recomendações de investimentos feitas por analistas de Equity Research no Brasil entre 2009 e 2021. Utilizando análises de regressão linear múltipla e logística, os pesquisadores analisaram as recomendações das principais empresas listadas na B3. A pesquisa categorizou as recomendações em compra (otimista), venda (pessimista) e manutenção (neutra).
Contrariando a hipótese inicial, as recomendações de investimento feitas por mulheres tendiam a ser mais otimistas do que as feitas por homens; em particular, analistas mulheres tenderam a evitar emitir recomendações de venda. Dos dados analisados, 87% das recomendações foram feitas por analistas homens, enquanto apenas 12% vieram de mulheres. Surpreendentemente, a representatividade feminina entre os analistas de Equity Research diminuiu ao longo dos 11 anos estudados, em vez de aumentar.
Mais da metade das recomendações totais foram de compra. As recomendações de manutenção corresponderam a quase 39%, e as de venda apenas 8%, o que sugere um comportamento excessivamente confiante tanto por parte de homens quanto de mulheres.
O estudo revelou que a percepção comum de que as mulheres são mais avessas ao risco e menos otimistas em suas decisões de investimento não se aplica às analistas de Equity Research no Brasil.
Além disso, especificamente na análise de regressões logísticas das recomendações, a disparidade de gênero foi observada especificamente nas recomendações de venda, e esse efeito desapareceu quando se controlou pelo setor de cobertura, instituição a que o analista pertence e ano da recomendação. Esse resultado sugere que fatores institucionais e contextuais tendem a influenciar mais as recomendações do que o gênero do analista.
Os pesquisadores destacam a necessidade de promover uma maior inclusão e representatividade feminina no setor de Equity Research. Além disso, sugerem que as políticas corporativas e educacionais devem focar em eliminar barreiras e preconceitos que possam estar limitando a participação feminina nesse campo. Com isso, espera-se que as futuras gerações de analistas possam ter uma representação mais equilibrada de gênero, refletindo um mercado mais diversificado e inclusivo.
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