A chegada dos transformadores pré-treinados generativos (GPTs) revolucionou a forma como muitos profissionais realizam tarefas que envolvem a criação de textos. No setor público, essa tecnologia tem gerado controvérsias. Os trabalhadores de linha de frente, conhecidos como burocratas de rua, estão dispostos a usar GPTs, mesmo quando suas organizações proíbem tal prática. A pesquisa publicada por Gabriela Lotta, Neomi Frisch-Aviram e Luciana Jordão na Public Administration Review analisa como a competição com o setor privado influencia essa tendência entre os defensores públicos brasileiros.
O estudo utilizou uma abordagem de métodos mistos, combinando grupos focais e um experimento quantitativo. Na fase qualitativa, os pesquisadores realizaram dois grupos focais com defensores públicos no Brasil. Um total de 14 participantes discutiram online com o objetivo de explorar as percepções dos burocratas da linha de frente sobre o uso de GPTs. Posteriormente, um experimento com 279 defensores públicos testou as hipóteses de que a competição com o setor privado estimula o uso não autorizado de GPTs.
Os resultados revelam que os defensores públicos veem os GPTs como uma ferramenta promissora para aumentar a eficiência e reduzir a carga de trabalho.
Isso especialmente em tarefas repetitivas. No entanto, existe uma relutância devido à falta de treinamento e à preocupação com a perda de controle sobre suas próprias funções. Além disso, a defensoria pública é um órgão que necessita transparência de processos e o uso da caixa preta das IAs pode ser um impeditivo. A pesquisa também destaca que a competição com colegas do setor privado. Afinal, eles têm mais acesso a ferramentas tecnológicas, influencia diretamente a decisão dos defensores públicos de usar GPTs, mesmo quando isso viola as regras organizacionais.
Um dos achados mais importantes é que os defensores públicos se sentem mais inclinados a quebrar as regras tecnológicas quando acreditam que seus concorrentes do setor privado estão em vantagem por usar IA. No entanto, entre os defensores públicos que competem com outros trabalhadores públicos, como promotores, essa pressão é menor. Isso porque ambos compartilham restrições semelhantes em relação ao uso de novas tecnologias.
Por fim, a pesquisa sugere que organizações públicas precisam adotar uma abordagem mais proativa em relação à regulação do uso de tecnologias como os GPTs. A resistência ao uso dessas ferramentas pode deixar a defensoria pública em desvantagem competitiva em relação ao setor privado, o que, por sua vez, pode levar a um aumento no uso não autorizado de GPTs.
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