O PIX, sistema de pagamentos e transferências instantâneos desenvolvido pelo Banco Central que começa a funcionar nesta segunda-feira (16/11), já conta com cerca de 30 milhões de cadastrados e está disponível para clientes de mais de 730 bancos, corretoras e instituições financeiras que operam no país.
O serviço permite a transação de valores entre pessoas, empresas e governo 24 horas por dia, inclusive em finais de semana e feriados, com recebimento imediato na conta. A nova tecnologia confere maior praticidade para as transações financeiras e traz algumas vantagens para o setor e também para o consumidor, além de abrir uma janela de oportunidades no mercado financeiro, podendo movimentar mais de R$ 16 trilhões ao ano, de acordo com a Exame.
“O que se espera é que a concorrência entre bancos, fintechs e novos players leve a taxas competitivas e beneficie as partes recebedoras e pagadoras”, afirma Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças (FGVcef) da FGV EAESP. Confira abaixo entrevista com Yoshinaga sobre os ganhos e desafios para a implementação do PIX e, aqui, seus estudos mais recentes sobre o mercado financeiro.
O que o sistema bancário vai ganhar com o pagamento instantâneo?
O principal ganho será a agilidade. Realizar transações entre partes 24 horas por dia, sete dias da semana torna as confirmações de pagamentos muito mais práticas. Neste momento de pandemia em que o comércio eletrônico aumentou consideravelmente, as transações poderão ser confirmadas quase que imediatamente. Isso poupará tempo de compensação de boletos, e consequentemente o envio dos produtos poderá ser mais expedito. Espera-se que o uso se torne cada vez mais amplo, atingindo mais pessoas – podendo, inclusive, contemplar pessoas não-bancarizadas. Estas poderão pagar contas sem a necessidade de ir a uma agência ou casa lotérica.
Quais as vantagens do pagamento instantâneo?
Caso o pagamento instantâneo realmente se torne relevante, no longo prazo podemos pensar em diminuição de dinheiro vivo em circulação. Isto poderá reduzir consideravelmente a necessidade de uma estrutura de caixas eletrônicos e segurança no transporte de valores. Por outro lado, pode-se prever uma redução de receitas por parte dos bancos com tarifas de envios tradicionais existentes de DOC e TED. O que ficou em aberto pelo Banco Central é o modelo de cobrança de cada banco para oferecer o serviço PIX. Ao contrário de envio de DOCs e TEDs, quando o custo é pago por quem envia o recurso, o custo de adquirência é pago por quem recebe o dinheiro (lojista, comerciante, restaurante ou prestador de serviço). Ou seja, no caso do PIX não está claro ainda como será a forma de cobrança pelos bancos para quem usar o pagamento instantâneo, seja enviando ou recebendo recursos. O que se espera é que a concorrência entre bancos, fintechs e novos players leve a taxas competitivas e beneficie as partes recebedoras e pagadoras.
As transações via caixas eletrônicos serão impactadas?
Se o PIX tiver boa adesão por parte das pessoas, a tendência é diminuir a quantidade de saques em dinheiro. A carteira virtual poderá substituir a necessidade de carregar dinheiro vivo, o que simplificaria o processo de circulação de dinheiro na economia em termos de contato físico com dinheiro.
A ideia do sistema de pagamento instantâneo pode ser aperfeiçoada?
No atual momento de pandemia, a redução de trocas de recursos com uso de cédulas e moedas é muito desejável. As transações acontecendo com o escaneamento de um código QR ou por aproximação reduzem o contato físico entre as pessoas e a necessidade de manuseio de notas de dinheiro ou mesmo de cartões de crédito e débito. Além disso, a redução de interações em caixas eletrônicos, agências bancárias para evitar aglomerações é necessária. No entanto, ainda temos como condição necessária para o uso do PIX que o usuário tenha um smartphone. A quantidade de aglomerações nos bancos para retirar o auxílio emergencial do governo nos mostra que as pessoas ainda recorrem ao dinheiro físico para fazer as suas compras, e que a conta digital ainda é uma realidade distante para a população como um todo, especialmente a de baixa renda. Iniciativas como o M-Pesa do Quênia, em que as remessas são feitas com uso de SMS, reduzem a necessidade de um telefone celular mais sofisticado. Talvez algo nessa linha também devesse ser buscado aqui no Brasil.