Já parou para pensar nas transformações que a indústria automobilística brasileira deve enfrentar nos próximos anos? Talvez você não tenha parado para imaginar, mas o mestrando da FGV EAESP, José Carlos D’Andrea Mateus fez esse exercício e trouxe algumas interessantes análises.
Utilizando o modelo de Schwartz para construir cenários futuros que levam em consideração a situação atual da indústria de automóveis no Brasil e visualizando potenciais situações futuras, o pesquisador identificou dois principais eixos que impactam esses possíveis cenários dos próximos anos: o desenvolvimento e o investimento. A partir desses eixos, bem como da coleta de informações e de perspectivas de profissionais da área que foram entrevistados pelo pesquisador, foram construídas narrativas desde os pontos de vista mais otimistas (sunny day) até os mais pessimistas (nightmare) que deixaram claro o complexo contexto em que está envolvido o setor.
“Estão envolvidas questões relativas ao desenvolvimento de políticas públicas, cumprimento de exigências de acordos de limitação de gases efeito estufa, matriz energética brasileira, utilização de biocombustíveis e até mesmo os interesses das matrizes de investir em novas tecnologias no Brasil”, destaca o pesquisador, reforçando que este investimento requer uso de intensivo capital nos países de origem.
Análise sobre adoção de veículos elétricos observa importância de novas tecnologias para melhorar eficiência energética
O exercício de análise evidenciou que há uma tendência clara de possíveis rupturas nos próximos anos, um reflexo dos desafios tecnológicos enfrentados globalmente pela indústria automobilística. A transformação do setor deverá incluir o desenvolvimento e a utilização de novas tecnologias que possam substituir e/ou melhorar a eficiência energética e emissão de gás carbônico dos atuais motores movidos a combustão interna.
Os veículos elétricos surgem no horizonte dos próximos 20 anos como uma das opções viáveis para atender as exigências ambientais e as novas demandas da sociedade, com tendência de crescimento. “Qualquer que seja a estratégia em desenvolvimento, os motores a combustão interna estarão fadados ao declínio, não importando qual o tipo de combustível”, frisa D’Andrea Mateus. Após uma análise extensiva de cenários possíveis para as próximas duas décadas, a percepção do pesquisador é que a difusão dos veículos elétricos pode ser uma ameaça principalmente para as empresas que têm seus modelos de negócios centrados na produção de peças voltadas aos veículos movidos por combustão interna.
Apesar da transição para veículos elétricos despontar como um fato inquestionável e com forte propensão de ganhar tração nos próximos anos, a pesquisa reforça que o ritmo dessa transição no Brasil deverá ser lento e gradual. “Isso acontece em função do sucesso da tecnologia dos veículos movidos a combustão interna, da matriz energética brasileira, da utilização dos biocombustíveis e das condições de contorno da infraestrutura que necessita de maciços investimentos”, pondera D’Andrea Mateus. Desta forma, a expectativa é que os veículos elétricos conquistem uma parcela significativa do mercado nos próximos 20 anos, mas mesmo com forte crescimento, a adoção deles não deverá abalar a dominância dos veículos movidos a combustão interna no Brasil neste período.