Uma das técnicas bastante utilizadas nos últimos anos para tirar projetos do papel tem sido o chamado financiamento coletivo (crowdfunding, na expressão em inglês), que funciona como uma espécie de “vaquinha” entre os interessados em fazer um projeto acontecer. Na maior parte das campanhas de financiamento coletivo, cada um dos apoiadores daquela campanha também recebe algum tipo de recompensa, que pode ser algo subjetivo como ser listado como apoiador original do projeto até recompensas físicas.
Para entender o que faz uma campanha ser bem sucedida, pesquisadores analisaram mais de 4.200 campanhas, originadas em 417 cidades brasileiras e que foram divulgadas a partir da plataforma Catarse entre os anos de 2011 e 2016, que juntas foram responsáveis por captar mais de R$ 38 milhões em apoio financeiro.
O que os pesquisadores descobriram é que as campanhas que alcançavam o sucesso (ou seja, alcançavam o valor almejado para a realização do projeto) de maneira mais rápida estavam localizadas em cidades brasileiras com maior inequalidade econômica. “Estas cidades também eram caracterizadas pelo fato das campanhas terem objetivos de financiamento mais baixos e um maior número de apoiadores”, explicam os autores do artigo, dentre os quais está o professor Wesley Mendes-Da-Silva, da FGV EAESP.
Além de detectar que as campanhas mais bem sucedidas tinham em comum objetivos financeiros menores, grande número de apoiadores e baixo número de recompensas, os pesquisadores também apontam que as taxas de sucesso mais altas e mais rápidas foram observadas entre os projetos caracterizados como “não-artísticos” – como os relacionados a arquitetura e urbanismo, ciência e tecnologia, design, educação, esportes, eventos, gastronomia, jornalismo, meio ambiente, mobilidade e transporte, moda e negócios).
“O que os resultados nos mostram é que os apoiadores tendem a preferir projetos menores, localizados em áreas de grande inequalidade, especialmente os que são não-artísticos. Isso indica que mais do que a recompensa, os apoiadores estão interessados na qualidade e no propósito dos projetos e tendem a investir em iniciativas que podem produzir um impacto social positivo e contribuir com a redução da inequalidade daquela região”, concluem os autores.