A internacionalização de multinacionais é um processo estratégico influenciado por diversos fatores econômicos, políticos e sociais. Em países emergentes, as eleições políticas representam um momento de alta incerteza, especialmente para empresas com laços estatais. Sendo assim, um estudo investigou como essas eleições impactam a expansão internacional de multinacionais no caso brasileiro, destacando diferenças nas estratégias de empresas com participação estatal indireta (SIO) e privadas (PO).
Portanto, a pesquisa utilizou dados de 89 multinacionais brasileiras entre 2000 e 2012, abrangendo três eleições (2002, 2006 e 2010). A análise combinou informações financeiras, de propriedade e de investimentos internacionais, coletadas de bases de dados como Economatica e Orbis. Foram aplicados modelos estatísticos para testar hipóteses baseadas na Teoria da Dependência de Recursos. O estudo foi realizado por Marina Gama (FGV EAESP), Rodrigo DeMello (Bentley University), Olivier Bertrand (FGV EBAPE) e Marie-Ann Betschinger (HEC Montreal), e publicado na Global Strategy Journal.
As multinacionais com participação estatal indireta (SIO) enfrentam maiores desafios em anos eleitorais devido à dependência de recursos governamentais, como financiamento e legitimidade, e à incerteza sobre políticas públicas futuras. Em comparação, a probabilidade de internacionalização das SIO é 5 vezes menor do que as multinacionais privadas durante anos eleitorais.
Anos eleitorais afetam a internacionalização de multinacionais em países emergentes
Além disso, as multinacionais SIO adaptam suas estratégias para reduzir riscos. Em anos eleitorais, elas preferem estabelecer subsidiárias de suporte ao cliente, que oferecem maior flexibilidade, em vez de plantas de manufatura. A probabilidade de optar por este modelo aumenta em quase 40% em relação às multinacionais privadas. Outro comportamento observado é a preferência por controle total das subsidiárias, com um aumento de 10% na probabilidade em comparação às privadas.
Portanto, esse padrão sugere que as multinacionais com participação estatal indireta adotam estratégias de hedge para mitigar as incertezas políticas. Embora a propriedade estatal indireta proporcione acesso a recursos valiosos, também impõe restrições à autonomia gerencial, especialmente em decisões de expansão internacional.
Além disso, o estudo destaca a relevância do contexto político doméstico para a internacionalização de multinacionais estatais. Gerentes de multinacionais SIO devem considerar o cronograma eleitoral ao planejar suas estratégias globais, equilibrando os benefícios de recursos governamentais com as limitações impostas pela incerteza política.
Por fim, os resultados sugerem que, em países emergentes, onde as instituições democráticas são menos robustas, as eleições intensificam as barreiras para a expansão internacional das multinacionais SIO. A pesquisa contribui para o debate sobre o papel do Estado no capitalismo global e reforça a necessidade de estratégias adaptativas em ambientes políticos instáveis.
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