O sistema de finanças descentralizadas difere das instituições tradicionais que intermediam transações financeiras, como bancos e corretoras. Conhecido como decentralized finances, ou DeFi, o modelo garante vantagens no mercado, como maior liquidez, eficiência e diversidade de negociações. No entanto, o sistema ainda conta com riscos tecnológicos e regulatórios que trazem incerteza aos usuários e à economia. Para enfrentar esses dilemas, é necessário investir em regulamentações que, ao mesmo tempo, proporcionem segurança e preservem a natureza descentralizada do ecossistema de descentralização das finanças.
A análise está em artigo publicado pelo pesquisador da FGV EAESP Ricardo Ratner Rochman na revista “GV-executivo”. Na descentralização das finanças, os usuários utilizam plataformas autônomas digitais para realizar investimentos, empréstimos, adquirir seguros e transferir recursos. O modelo permite aos usuários desempenharem funções típicas de instituições financeiras e serem remunerados por isso, com a disponibilidade imediata de recursos financeiros. A criação de pools de liquidez, onde os usuários são recompensados pelas taxas geradas, contribui para a eficiência do mercado, aponta o artigo.
O sistema também introduz os chamados agregadores de rendimento, ou yield aggregators. São estruturas de investimento global dinâmicas que ajudam a reduzir os riscos de liquidez. A estrutura também permite negociações em moedas mais estáveis e populares – as stablecoins -, oferecendo maior segurança aos usuários. Além disso, são permitidas negociações entre diferentes plataformas por meio dos aplicativos bridges, que criam conexões entre redes do ecossistema DeFi. Também há coleta de informações para formar preços e taxas a partir dos dispositivos oráculos, ou oracles, que transmitem dados de fora para dentro do ecossistema.
Regulamentação e governança ajudam a enfrentar os desafios do novo modelo
Apesar das vantagens, os projetos DeFi estão em fase inicial de desenvolvimento e podem apresentar desafios. As incertezas incluem aspectos tradicionais do mercado financeiro, como riscos de crédito e lucro, além da possibilidade de golpes e fraudes. Fatores tecnológicos também são uma preocupação, com a possibilidade de invasão por hackers que se aproveitam de falhas na segurança cibernética, por exemplo.
Para mitigar as vulnerabilidades dos sistemas de descentralização das finanças, o autor destaca a necessidade de regulação no novo mercado. A prática pode diminuir os riscos de fraudes financeiras, como lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e usos indevidos das criptomoedas, por exemplo. Também é importante criar parâmetros de governança próprios ao ecossistema DeFi. Isso inclui oferecer uma estrutura de negócios transparente e responsável, garantir a expertise dos profissionais atuantes e monitorar e reportar possíveis riscos e ameaças.
Como perspectivas futuras, o autor explica que é provável que o DeFi e o sistema financeiro tradicional passem a coexistir. Instituições financeiras e bancos centrais, por exemplo, vêm investindo na criação de moedas digitais próprias – como é o caso do Banco Central do Brasil, que vem desenvolvendo o real digital.