Para lidar com o cenário de mudanças constantes no ambiente de negócios e pressões de diferentes partes interessadas, empresas desenvolvem estratégias que integram seus objetivos de negócio a princípios sociais e ambientais. Mecanismos de monitoramento de demandas e promoção de parcerias com diferentes grupos de interesse, ou stakeholders – organizações não governamentais, agências reguladoras, governos e comunidades locais, por exemplo – são implementados de forma a corresponder às transformações mundiais em aspectos políticos e sociais, além de garantir vantagens competitivas no mercado.
É o que mostra artigo publicado na “Revista de Administração de Empresas” (RAE) pelas pesquisadoras da FGV EAESP Marina Amado Bahia Gama e Maria Tereza Leme Fleury, em colaboração com o pesquisador Pablo Leão. Para analisar como as companhias implementam estratégias sociais em seus negócios, os autores realizaram um estudo de caso múltiplo com quatro multinacionais brasileiras do setor de papel e celulose. Buscando entender o posicionamento de cada organização, foram realizadas entrevistas com gestores das empresas e diferentes stakeholders, no período de novembro de 2018 a dezembro de 2020.
Sustentabilidade: oportunidade para a adaptação das empresas
Segundo o estudo, a habilidade de uma organização em modificar recursos para atender a demandas do ambiente é conhecida como capacidade dinâmica (CD) e vem sendo mobilizada também para corresponder a agendas políticas e sociais. No setor de papel e celulose, gestores usam a CD para detectar problemas e oportunidades no âmbito social a partir de práticas como a elaboração de canais de comunicação com stakeholders para receber demandas e dialogar com esses atores. A partir daí, as empresas criam parcerias e programas com governos, comunidades locais e organizações sem fins lucrativos de forma a engajar e criar relacionamentos positivos com esses grupos. Também regulam sua atividade ao se manterem em dia com critérios de sustentabilidade e certificações ambientais, por exemplo.
Os pesquisadores ainda destacam como as companhias têm aproveitado o cenário para explorar as oportunidades de serem sustentáveis, e não só gerar lucro pela atividade principal da empresa. Exemplos práticos mencionados pelos gestores são a redução do endividamento em nível histórico e a diminuição do prazo para cumprirem com objetivos sociais – como a remoção de carbono da atmosfera – causados pelo alinhamento com metas ambientais. Por último, as mudanças na agenda social dependem de uma estrutura organizacional que apoie essas transformações e as posicionem como prioridade da empresa.