A concentração de propriedade das empresas de capital aberto reduz o risco percebido por investidores. Assim, está associada a uma menor utilização do mecanismo que dá proteção e garantia a credores em contratos de dívida, conhecidos como covenants. A conclusão é de artigo publicado na revista “Brazilian Business Review” pelo pesquisador da FGV EAESP Rafael Felipe Schiozer e pela pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Tatiana Albanez.
O trabalho analisa contratos de dívida de 278 companhias listadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3, de 2007 a 2018. Os autores realizaram coleta manual sobre empréstimos e financiamentos em mais de 4 mil notas explicativas dos relatórios das empresas.
Os covenants buscam resolver conflitos de interesse entre credores e acionistas. São cláusulas restritivas que coíbem estratégias de alto risco e projetos ineficientes das empresas que podem prejudicar financeiramente os investidores, explica o artigo.
Os pesquisadores explicam que 26% da amostra registrou quebra de contrato de dívida durante o período analisado, com frequência aumentada nos anos de 2015 e 2016. “Tal resultado é possivelmente um reflexo da recessão econômica observada nesses anos, que afetou o fluxo de caixa gerado pelas empresas, bem como seus níveis de endividamento”, apontam.
A propriedade concentrada em acionistas majoritários, com maior interesse em geração de valor para a companhia, fortalece mecanismos internos de governança. Isto garante que interesses dos investidores também sejam considerados na tomada de decisão financeira. Segundo os autores, esse comportamento é esperado em ambientes com baixo nível de proteção dos credores, como o Brasil.