Ambientes institucionais frágeis, caracterizados por instituições regulatórias inconsistentes, são desafiadores para empresas que buscam operar de forma eficiente e competitiva. Tais ambientes aumentam a incerteza, permitindo práticas prejudiciais, como corrupção e má gestão, impactando negativamente as cadeias de suprimentos. No entanto, eles também podem estimular a inovação e o desenvolvimento de capacidades organizacionais, caso as empresas adotem estratégias adequadas para engajar ou contornar essas instituições.
Os pesquisadores Kenyth Freitas, Bárbara Flynn e Ely Paiva, da FGV, realizaram um estudo de caso múltiplo com sete empresas multinacionais líderes em diferentes setores no Brasil, incluindo automotivo, bebidas, química (cosmético) e tabaco. As entrevistas ocorreram entre agosto de 2017 e fevereiro de 2019, utilizando roteiros semiestruturados. O estudo foi publicado na International Journal of Operations & Production Management.
Estratégias de engajamento em ambientes institucionais frágeis
As empresas optam por três estratégias principais:
- Evasão: Evitam interagir com instituições regulatórias desfavoráveis, deslocando operações para locais com condições mais estáveis.
- Adaptação: Aceitam as limitações institucionais e ajustam suas operações para minimizar os impactos.
- Coevolução: Colaboram para influenciar instituições regulatórias, moldando o ambiente de negócios a seu favor.
Portanto, essas escolhas dependem de quatro fatores: impacto direto nas operações, alternativas institucionais, necessidade de apoio institucional e suporte de outras empresas do setor.
O estudo conclui que indústrias concentradas, como bebidas e tabaco, tendem a estratégias individuais de adaptação e coevolução. Já os setores descentralizados colaboram para acessar redes institucionais, ampliando seu poder de influência.
Além disso, empresas que se esforçam para se adaptar ou influenciar instituições regulatórias desenvolvem capacidades operacionais e institucionais que aumentam sua competitividade. Por exemplo, estratégias de coevolução frequentemente resultam em capacidades de contrato relacional, especialmente em setores descentralizados.
A pesquisa destaca a necessidade de gestores enxergarem a incerteza institucional não apenas como um obstáculo, mas como uma oportunidade para inovação e fortalecimento operacional. Portanto, o engajamento institucional contínuo pode gerar benefícios mútuos para empresas e formuladores de políticas públicas, promovendo um ambiente de negócios mais competitivo.
O estudo contribui para a literatura ao explorar como empresas podem transformar ambientes institucionais frágeis em alavancas para o desenvolvimento de capacidades organizacionais. Por fim, ele também fornece um guia prático para gestores navegarem em cenários de alta incerteza institucional. Assim é possível promover soluções colaborativas que impactam positivamente tanto os negócios quanto o ambiente regulatório.
Vale acrescentar que este artigo foi destacado pelo International Journal of Operations & Production Management como uma das leituras essenciais para compreender o cenário global pós-eleições nos Estados Unidos. Afinal, líderes da cadeia de suprimentos precisam se preparar para possíveis impactos em políticas comerciais, prioridades regulatórias e mudanças geopolíticas. A incerteza política pode transformar profundamente as estratégias de gestão de cadeias de suprimentos, fornecendo lições valiosas para enfrentar momentos de instabilidade.
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