Em 4 anos, o número de investidores individuais na bolsa de valores brasileira cresceu mais de 6 vezes. Isso tem atraído a atenção dos estudiosos do campo das Finanças Comportamentais, principalmente no que diz respeito à tomada de decisão (TD) dos investidores. As Finanças Comportamentais são o estudo do comportamento dos investidores. Um de seus principais pilares é a racionalidade limitada dos investidores, pois pressupõe-se que o ser humano nem sempre toma as melhores decisões possíveis, estando sujeito à influência de heurísticas e erros durante a tomada de decisão.
Estima-se que existam pelo menos 22 vieses que comumente influenciam a TD dos investidores. Com o objetivo investigar as opiniões de investidores brasileiros sobre quais vieses psicológicos podem influenciar a tomada de decisão de investidores individuais e profissionais do mercado financeiro, a pesquisadora da FGV EAESP, Claudia Yoshinaga, em conjunto com demais pesquisadores, realizou uma pesquisa publicada na revista Psicologia Clínica. A pesquisa consiste em um questionário composto em sua maioria por questões abertas. Foram analisadas as respostas de 8 pesquisadores do campo das finanças comportamentais, 17 profissionais que atuam no mercado financeiro e 20 investidores individuais.
Em geral, o questionário abordou a opinião sobre os fatores que podem influenciar a tomada de decisão, como pensamentos, emoções e comportamentos, além dos vieses psicológicos. O questionário foi aplicado de forma online, na plataforma Qualtrics, e a amostra foi atingida através do método bola de neve, em que um participante envia a pesquisa para sua rede de contatos.
Os principais resultados demonstram que os participantes reportaram 17 vieses diferentes. Embora existam discrepâncias nas opiniões de cada grupo de participantes, os vieses de ancoragem, excesso de confiança, aversão à perda e efeito manada foram os mais reportados pelos três grupos. O viés de ancoragem refere-se à tendência de utilizar preços conhecidos ou âncoras para determinar se algo está barato ou caro. Já a aversão à perda é a inclinação de evitar qualquer tipo de perda financeira, mesmo que isso signifique se expor a um risco maior. Por fim, o efeito manada é a propensão de seguir a direção ou decisão de um grande grupo de pessoas.
Ademais, a pesquisa aponta que 35% dos investidores individuais relataram não conhecer nenhum viés. Outros 30% acreditam que os profissionais do mercado financeiro são imunes a seus efeitos. Esses achados demonstram a necessidade de intervenções educativas sobre a influência dos vieses psicológicos na tomada de decisão, como cursos e outras intervenções regulatórias ou educativas direcionadas principalmente aos investidores individuais.
Por fim, uma parcela significativa dos participantes mencionou a influência do viés de confirmação na tomada de decisão. Por isso, recomenda-se a realização de novas pesquisas que investiguem esse viés, principalmente considerando o aumento da publicidade como venda de cursos e carteiras de investimento direcionada aos investidores nas redes sociais.