O aumento da indecisão de carreira é observado em meio às mudanças tecnológicas e do mercado de trabalho, com cerca de 51% da população empregada expressando intenção de deixar seus empregos atuais. Esse fenômeno é evidenciado por pedidos de demissão em massa desde 2020, conhecido como Grande Renúncia, e pela prática de renúncia silenciosa, em que profissionais permanecem no emprego sem engajamento. No Brasil, pesquisa da FGV revela que 60% dos brasileiros experimentam esse fenômeno, e o país também registra o segundo maior número de casos diagnosticados de burnout.
Com o objetivo de propor um framework de decisão de carreira para profissionais se orientarem diante de seus dilemas, os pesquisadores da FGV EAESP Lívia Kuga e Miguel Caldas escreveram artigo para a GV Executivo. Sob a metodologia de revisão sistemática da literatura, ou seja, localizar, organizar e avaliar as principais publicações relacionadas ao tema, foram selecionados artigos entre 1962 e 2023. A partir da revisão, propôs-se uma ferramenta prática orientativa para os profissionais. A busca foi feita em três base de dados: Web of Science, EBSCO Business Source Complete e Scopus. A amostra final totalizou 985 artigos diretamente relacionados ao tema de decisão e indecisão de carreira.
A pesquisa revelou predominância do estudo do assunto entre adolescentes. Apenas 10% da amostra abordava adultos. Assim, os pesquisadores desenvolveram o framework Modelo Cíclico de Decisão de Carreira, que oferece um guia de como adultos podem lidar com dilemas ao longo de suas vidas. Os pesquisadores explicam que no novo modelo, a tomada de decisão não é um processo linear, mas um fluxo permanente e dinâmico, em que o profissional precisa constantemente avaliar e reavaliar a si mesmo, seu contexto e suas opções de carreira, atento às incertezas do ambiente. O processo consiste em cinco pilares: conhecimento de si, exploração contínua de contexto, planejamento, ação e rotina, e (re)avaliação.
Além disso, os pesquisadores elaboraram um questionário auxiliar ao modelo para que os profissionais consigam identificar em qual ou quais pilares há possibilidades de melhorias. Isso não quer dizer que as organizações sejam excluídas do processo. Com base nas tradições de pesquisa mapeadas e nos instrumentos disponíveis, empresas podem investir em iniciativas para lidar com a indecisão de carreira de seus colaboradores. Assim, podem antever ou mitigar potenciais pedidos de desligamentos ou diminuições silenciosas de engajamento.
A partir do framework proposto, profissionais poderão avaliar seu próprio estágio decisório e navegar pelos seus impasses de carreira sem sucumbir à síndrome da indecisão crônica. A pesquisa aponta ainda que a indecisão de carreira é um sinal dos tempos em que vivemos, e a literatura sobre o tema revela diversos caminhos para que colaboradores, líderes e organizações possam lidar melhor com esse fenômeno ao qual todos, mais cedo ou mais tarde, estarão sujeitos.