Em empresas compradoras brasileiras, diversidade de fornecedores ainda é desafio e requer mudanças na mentalidade e nas práticas das companhias. Apesar da ampla implementação de programas de diversidade, a maioria das organizações não se engaja em atividades de inclusão social na área de fornecimento. Para incorporar uma perspectiva efetivamente inclusiva, compradoras devem implementar projetos que visem maior impacto social, incluindo mentorias para qualificação de fornecedores de grupos minoritários e avaliação das iniciativas com base em seu impacto para a sociedade, e não somente no lucro ou na eficiência.
É o que mostra artigo publicado pelas pesquisadoras da FGV EAESP Priscila Miguel e Maria José Tonelli no periódico “International Journal of Physical Distribution & Logistics Management”. Por diversidade de fornecedores, as autoras entendem o processo de aquisição de bens e serviços a partir de provedores minoritários, como mulheres, diferentes grupos étnicos e raciais e pessoas com deficiência, por exemplo. Para investigar como as companhias brasileiras implementam programas de compra desses prestadores, bem como os impactos dessas iniciativas, o estudo contou com duas etapas.
Numa primeira etapa, as autoras aplicaram um questionário com o objetivo de entender o envolvimento de 109 companhias compradoras em práticas de diversidade de fornecedores, entre abril e novembro de 2019. Em seguida, elas realizaram dois estudos de caso para entender como empresas implementam programas voltados à diversidade desses profissionais e quais os resultados dessas iniciativas. O artigo analisou duas multinacionais brasileiras do setor químico engajadas em práticas de diversidade de fornecedores. No total, as autoras realizaram 21 entrevistas aprofundadas com compradores, fornecedores e terceiros no âmbito dessas companhias, entre abril e novembro de 2020.
Qualificação de fornecedores pode contribuir para diversidade e inclusão nas organizações
Os resultados indicam que a diversidade de compradores no Brasil ainda é uma ideia em desenvolvimento. Das 109 compradoras que responderam ao questionário, apenas 13% – cerca de uma em cada dez – relataram engajamento com práticas de diversidade no setor de fornecimento. Segundo o estudo, uma das explicações para esse número é a falta de fornecedores qualificados nesses grupos para atenderem à demanda das grandes organizações. Em países emergentes, como o Brasil, esses profissionais sofrem com desigualdades econômicas e não conseguem competir em capacidade com os grandes fornecedores. Por sua vez, as empresas não oferecem iniciativas de mentoria e preparo para capacitar esses profissionais.
Além disso, muitas companhias apresentam vieses inconscientes de que esses profissionais são menos qualificados e restritos a determinadas áreas. Em outros casos, contratam esses prestadores apenas na condição de oferecerem o menor custo. Para as autoras, é necessário priorizar o oferecimento e o alcance de programas de capacitação a esses prestadores. Neste sentido, as organizações podem adorar metas e perspectivas que contribuam para diminuir a exclusão social.
É importante, ainda, que as empresas superem dilemas entre critérios econômicos e sociais, olhando a sustentabilidade como um fator que aumenta o valor do produto ou do serviço para os clientes. O papel de terceiros – como gestores de programas de diversidade e relações institucionais nas empresas – também recebe destaque. Estes atores são responsáveis por intermediar as relações entre compradores e fornecedores, criando conexões e contribuindo para a capacitação desses profissionais.