O foco nos cuidados dos pacientes é geralmente bem visto nos ambientes de saúde, mas o contexto da pandemia de Covid-19, em que os profissionais estão sujeitos a riscos de infecção, além de perdas e traumas, pode ser muito prejudicial para quem atua com medicina ou enfermagem.
Uma pesquisa de co-autoria de Miguel Caldas, pesquisador da FGV EAESP, revelou que a intensidade do envolvimento dos profissionais de saúde com os cuidados com seus pacientes tem relação com a exaustão emocional no trabalho.
Além disso, os pesquisadores notaram que quanto maior a “motivação pró-social” do trabalho destes profissionais, caracterizada como “um desejo de beneficiar os outros ou se esforçar por se preocupar com terceiros”, mais exacerbada era a relação deles com a exaustão emocional.
“Análises suplementares sugeriram que a exposição a uma autodimensão do envolvimento está positivamente associada à exaustão emocional e depressão”, destacam os autores, reforçando que a compreensão do papel da motivação pró-social e do impacto pró-social tem ramificações importantes para os profissionais de saúde que estão nos atendimentos da linha de frente, já que estes vão precisar de recursos para gerir o trauma associado às suas funções.
Os autores também ressaltam que a pesquisa oferece percepções significativas para organizações e profissionais de saúde, já que um intenso envolvimento (que inclui, mas não se limita, ao risco de se expor a materiais infectados, risco de infectarem-se com a doença e até a perda de vários pacientes por turno) poderá levar a experiências negativas.
“Realisticamente, experimentar alguns resultados negativos é inevitável, dada a magnitude da pandemia”, frisam os autores, elencando algumas maneiras de mitigar essas experiências negativas. “O primeiro passo é reconhecer quem está sob maior risco, que são especificamente os profissionais de saúde com maior motivação pró-social, que são movidos pela preocupação com os outros”, sugerem.
Em um segundo momento, os autores apontam que o medo da exposição à doença também é um importante fator relacionado às emoções negativas, o que deveria levar as organizações de saúde a investir em equipamentos e treinamentos voltados à segurança no trabalho.
“Por fim, considerando os nossos achados que demonstram que um intenso envolvimento no combate à pandemia pode levar a um aumento da exaustão emocional, é importante que os profissionais de saúde tenham a oportunidade de se recuperar dessas experiências desgastantes. Afinal, mesmo que haja escassez de profissionais de saúde, é importante não sobrecarregá-los, permitindo que descansem e se recuperem, especialmente após turnos mais traumáticos, sob risco de levar os profissionais ao esgotamento e, a longo prazo, exacerbar a escassez”, concluem os pesquisadores.
Confira o estudo na íntegra no Journal of Applied Psychology.