A pandemia da Covid-19 acentuou a insegurança alimentar em todo o mundo, afetando especialmente países emergentes, como o Brasil. Uma das soluções para combater esse problema são cadeias de suprimentos de doação de alimentos, que conectam doadores a pessoas em situação de vulnerabilidade. Esta pesquisa, realizada por Luciana Vieira, Priscila Miguel e Camila de Moraes, da FGV EAESP, está disponível na revista International Journal of Logistics Management com publicação prevista para 2025 e busca mapear as dinâmicas e os desafios dessa cadeia de suprimentos no Brasil e suas implicações para políticas sociais.
Através de um estudo de caso, as pesquisadoras realizaram 15 entrevistas com representantes de bancos de alimentos, doadores, empresas de impacto social e movimentos sociais. Além disso, usaram observações não participantes e dados secundários, como códigos de prática e documentos. A análise dos dados foi realizada por meio de software qualitativo, focando nas diferentes dimensões do Capital Intelectual (estrutural, humano e relacional).
Os resultados mostram que diferentes elos da cadeia podem alavancar a doação de alimentos em diferentes níveis.
No começo da cadeia de doação, os processos e regras são mais importantes, enquanto na ponta final, o foco está nas pessoas e nos relacionamentos. Isso é o que as pesquisadoras chamam de dimensões estrutural, humana e relacional. A dimensão estrutural é relacionada a processos, infraestrutura, procedimentos e documentações. Já a dimensão humana trata das habilidades e competências das pessoas envolvidas. Por fim, a dimensão relacional refere-se a rede de relacionamentos e reputação entre as pessoas e empresas envolvidas. No entanto, um aspecto crucial identificado no estudo foi o papel do capital político, que afeta diretamente o acesso a recursos e o engajamento dos stakeholders.
Os bancos de alimentos enfrentam limitações financeiras e operacionais, especialmente na falta de processos padronizados para gerenciar as doações. Melhorias no capital estrutural, como a adoção de tecnologias e processos otimizados, poderiam aumentar a eficiência das doações e melhorar o atendimento às comunidades vulneráveis.
Por fim, a pesquisa conclui que, para que as cadeias de suprimentos de doação de alimentos sejam eficazes, é fundamental uma maior colaboração entre os setores público, privado e organizações sem fins lucrativos. Além disso, o capital político também desempenha um papel determinante, podendo tanto facilitar quanto dificultar o acesso a recursos governamentais e incentivos. A construção de uma rede sólida de parcerias e o fortalecimento do capital intelectual são essenciais para garantir a eficiência e sustentabilidade dessas cadeias no combate à fome no Brasil.
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