Ao analisar de forma crítica o uso de moedas digitais e o conceito de microcrédito, que costuma ser utilizado por microempreendedores brasileiros, a pesquisadora Erica Siqueira revela que a oferta de crédito em montantes reduzidos também pode ser utilizada como uma ferramenta para controle, dominação e até extração de riqueza de uma parcela da população.
A autora da tese de doutorado “Capitalismo de Plataforma, (Micro)finanças e a Relação Dialética entre Controle e Resistência no Trabalho dos Microempreendedores da Sulanca”, que recebeu menção honrosa entre as teses de administração de empresas de 2020, destaca que a oferta do microcrédito, que acontece muitas vezes por meio de uma relação pessoal entre o agente de microcrédito e os empreendedores, pode funcionar como um mecanismo de monitoramento, além de evitar que existam atrasos nos empréstimos e ter a capacidade de manter a renovação da tomada de crédito.
“Esse monitoramento pode ser feito tanto por meios digitais quanto pelas relações pessoais”, destaca a autora no quinto episódio do podcast Impacto, que destaca as pesquisas realizadas na FGV EAESP.
A pesquisa de Siqueira incluiu uma imersão de quatro meses em Caruaru, no Pernambuco, onde fez entrevistas e pesquisas para entender como era feita a gestão financeira de uma empresa privada de microcrédito, compreendendo os detalhes de como eram feitos os pedidos de empréstimo e como os clientes eram abordados.
Segundo a autora, a proposta do seu trabalho é permitir compreender melhor como as empresas emprestavam para microempreendedores de baixa renda e ainda assim conseguiam extrair lucro e rentabilizar a empresa para investidores do mercado financeiro. “Minhas contribuições visam abrir um campo de crítica, para não ficar presa à uma tradição só de pesquisa, e mudar o olhar de como o microcrédito é usaro para controlar, dominar ou extrair riqueza de uma parcela da população”, explica ela em entrevista no podcast.
Ouça mais detalhes sobre a pesquisa no episódio abaixo.