O distanciamento social obrigatório causado pela pandemia de Covid-19 impactou o mundo do trabalho como um todo, mas os desafios foram sentidos de maneira diferente entre os gêneros, revela pesquisa. Segundo os autores, entre os quais está Marcelo Gattermann Perin, da FGV EAESP, aspectos como a interrupção do trabalho e os incentivos organizacionais que são capazes de influenciar o bem estar dos trabalhadores durante o período de home office afetaram de forma diferente os homens e mulheres do mercado de tecnologia.
Ainda que a interrupção do trabalho tenha sido negativa para ambos os gêneros, as mulheres reportaram com mais frequência aspectos relacionados à interrupção por conta da cultura do cuidado com os filhos e a casa. Já entre os profissionais do gênero masculino, a principal reclamação tinha a ver com a falta de espaço físico reservado para trabalhar.
Entre os diversos incentivos organizacionais oferecidos no período – como o envio de equipamentos apropriados ou a realização de happy hours virtuais – os efeitos foram positivos para os homens (aumento de 27% em bem-estar), mas não tiveram impactos significativos entre as profissionais do gênero feminino (aumento de apenas 6% do bem-estar), ressaltam os autores. “Isso indica que os incentivos oferecidos atendem melhor às necessidades dos homens do que das mulheres”, reflete Letícia Machado, uma das autoras da pesquisa.
O bem-estar dos profissionais de tecnologia também tem relação direta com o número de interrupções durante a jornada de trabalho. Quem precisa lidar com muitas intrusões tem seu bem-estar positivo reduzido em aproximadamente 45%, na comparação com os profissionais que têm poucas ou nenhuma interrupções.
Empresas devem elaborar estratégias para melhorar experiência de home office feminino
Com base nos resultados da pesquisa, os autores identificam uma série de oportunidades para que as organizações possam prover um melhor suporte para as profissionais da área de tecnologia, levando em consideração as diferenças de gênero e adotando estratégias que promovam maior equidade. Entre as recomendações listadas no artigo publicado na IEEE Software está a busca por benefícios que levem em consideração a diversidade de gênero, especialmente no sentido de incluir a preocupação das profissionais mulheres com o cuidado com a casa e os filhos. “Um exemplo é substituir o vale-refeição por créditos para a entrega de comida em domicílio”, ressalta Machado.
Confira o estudo na íntegra no site da IEEE Computer Society.