Em um coletivo, os indivíduos sentem-se motivados a reivindicar sua existência perante o outro diante da impossibilidade de total consenso. Em uma relação horizontal, sem hierarquias, o reconhecimento de afinidades entre os participantes facilita o diálogo.
Em artigo publicado na Revista Lationamericana de Psicopatologia Fundamental, o professor da FGV EAESP Tiago Corbisier Matheus aborda a experiência de discussão de casos clínicos entre profissionais de uma instituição de psicanálise. Apesar da inevitabilidade do conflito, a prática cotidiana de diálogo busca o reconhecimento mútuo e um espaço aberto a todos os membros e convidados, com respeito às normas e valores acordados naquele contexto.
O estudo apresenta a ideia de utopia do encontro horizontal entre pares a partir das reflexões dos pensadores Paul Ricoeur e Jacques Rancière. O convívio social marcado ora por lutas coletivas, ora por sentimentos de exclusão e opressão, leva os indivíduos a reivindicarem o direito à palavra em meio a seus pares.
Assim, mesmo em contexto de desigualdades sociais, a disposição humana para a cumplicidade e o reconhecimento diante do outro fortalece a valorização coletiva de ideais como igualdade e liberdade. A luta pelo reconhecimento no plano social é uma reivindicação da própria existência diante do outro.