Para potencializar os impactos da produção científica na sociedade, projetos de pesquisa devem considerar resultados práticos em suas atividades. Hoje, grande parte dos estudos apresentam foco acadêmico, como publicação de artigos em revistas científicas ou produção de materiais didáticos. Além disso, os pesquisadores devem priorizar modos alternativos de produzir o conhecimento, incorporando aspectos políticos e sociais, por exemplo, no planejamento de seus projetos. Além disso, instituições também devem orientar cientistas e criar condições para a elaboração e a disseminação de pesquisas voltadas à resolução de desafios reais. Esses fatores podem impulsionar o impacto da ciência em organizações, políticas públicas e dimensões sociais, permitindo à produção científica contribuir com as demandas da sociedade.
A reflexão está em artigo publicado pelos pesquisadores da FGV EAESP Thomaz Wood Junior e Adriana Wilner na revista “Cadernos EBAPE.BR”. Para desenvolver e testar um modelo de avaliação de impacto da produção científica, os autores analisaram 23 projetos de pesquisa brasileiros realizados no âmbito do Projeto Institucional de Internacionalização (prInt) da Capes, entre março e dezembro de 2021. Eles realizaram entrevistas individuais com os responsáveis pelos projetos, o que permitiu a criação de quadros de classificação do impacto acadêmico e prático de cada pesquisa.
De acordo com o estudo, a maioria dos projetos teve enfoque científico e gerou impactos dentro da academia. Por outro lado, os impactos práticos – em organizações, políticas públicas ou na sociedade – foram escassos ou ausentes na maioria dos casos. Esses resultados indicam que o modo tradicional de produção do conhecimento, restrito ao âmbito acadêmico, ainda é predominante. Além disso, a academia ainda é isolada do restante da sociedade, com pouca interação com membros de empresas e do governo, o que restringe o alcance e a influência prática das pesquisas.
Instituições podem mudar o cenário e fortalecer o impacto da produção científica na prática
Os autores apontam que, em grande parte, a falta de enfoque prático se deve às instituições de pesquisa e às agências financiadoras, que estimulam mais a publicação de novos artigos do que a interação com a sociedade. Segundo o artigo, além de fomentar novos modelos de produção de conhecimento voltados à prática, é necessário criar novas formas de avaliar o impacto, com indicadores que permitam mensurar o efeito social das pesquisas. Os órgãos de financiamento, por exemplo, podem solicitar projetos de pesquisa estruturados que relacionem atividades, produtos, resultados e impactos. As instituições também devem fomentar a disseminação das pesquisas voltadas à aplicação prática, bem como a mobilização de atores externos para impulsionar o impacto social.
De acordo com os pesquisadores, a maioria dos projetos tem potencial para incorporar o impacto prático. Eles citam pesquisas da amostra que foram utilizadas na elaboração de leis, políticas e na gestão organizacional. A proposta de avaliação dos autores pode estimular o uso da ciência na solução de problemas e desafios complexos da sociedade em diferentes áreas do conhecimento.