Moedas comunitárias (CCs) são formas alternativas de dinheiro geralmente emitidas e geridas por cidadãos, ONGs e empresas, bem como por administrações públicas locais. Utilizadas para comercializar bens e serviços em territórios limitados ou entre uma determinada comunidade, as CCs são compostas por dimensões simbólicas, culturais e sociais e estão completamente imersas em contextos econômicos e institucionais específicos. Apesar da crescente adoção das CCs, a discussão sobre princípios e valores para abordar seus propósitos, particularmente em relação às questões de sustentabilidade ambiental, ainda é escassa.
Diante dessa lacuna, os pesquisadores da FGV EAESP e colaboradores, Eduardo H. Diniz, Marcelo Henrique de Araujo, Mario Aquino Alves e Lauro Gonzalez, publicaram um artigo na Sustainability Science para apontar quais são os princípios de design a serem considerados em projetos de moeda comunitária orientados para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Para isso, seguiram os paradigmas da pesquisa em ciência do design (DSR) para descrever os princípios de design de um projeto de CC.
Os pesquisadores propõem um framework para princípios de design em projetos de CC alinhados com os ODS baseado em quatro dimensões: análise do contexto, objetivos, detalhamento dos mecanismos necessários para implementação do projeto e critérios de avaliação das implicações do projeto. Projetar projetos de moeda comunitária (CC) para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) requer uma abordagem cuidadosa e matizada que considere tanto os objetivos quanto a sua avaliação no contexto mais amplo do desenvolvimento comunitário.
Embora considere o aspecto multidimensional da sustentabilidade, a literatura anterior aponta o foco limitado em questões ambientais nos projetos de CC. A maioria se concentra em objetivos sociais e econômicos, enquanto projetos explicitamente pró-ambientais são raros. Os pesquisadores apontam exemplos em que os CCs podem contribuir para 12 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Seja na luta contra a pobreza (ODS1), focando no acesso aos direitos econômicos e sociais para os pobres, na igualdade de gênero (ODS5) criando instrumentos de pagamento para o trabalho geralmente não remunerado realizado por mulheres. Há também o pagamento por serviços públicos básicos, como água e eletricidade, eles podem contribuir com o ODS6 (água e saneamento para todos) e ODS7 (acesso à energia acessível).
Portanto, os pesquisadores concluem que as moedas comunitárias têm o potencial de servir como mecanismo valioso para desafios locais e podem ser integradas a uma abordagem destinada a alcançar os ODS. Ao promover a sustentabilidade, inclusão e prosperidade econômica ao nível da comunidade, essas moedas podem contribuir para uma estratégia mais ampla para alcançar os ODS.