A produção de açaí na Amazônia brasileira enfrenta desafios significativos tanto sociais quanto ambientais. A expansão do cultivo em áreas elevadas tem resultado em impactos ambientais, como desmatamento e captação de água dos rios. Além disso, a colheita do açaí é uma atividade perigosa, frequentemente envolvendo trabalho infantil e riscos à saúde dos trabalhadores. Essa produção é vital para as comunidades ribeirinhas, sustentando diretamente 300.000 pessoas e envolvendo 54 municípios na cadeia de suprimentos.
Para abordar esses desafios, empresas estão trabalhando com fornecedores para implementar práticas sócio-ambientais e garantir conformidade com regulamentações governamentais. A gestão sustentável da cadeia de suprimentos é essencial, considerando os três pilares: desempenho social, ambiental e financeiro. Para isso, a certificação é uma ferramenta importante no processo, orientando as empresas em direção a práticas sustentáveis e proporcionando confiança aos consumidores sobre a adesão dos fornecedores a essas práticas. Nesse contexto, a pressão dos clientes acaba desempenhando um papel crucial, influenciando as escolhas das empresas e contribuindo para o melhor desempenho operacional daquelas que implementam práticas ambientais adequadas.
Com o objetivo de analisar o impacto das pressões dos clientes e das regulamentações governamentais na implementação de práticas sócio-ambientais na certificação de produtos agrícolas orgânicos, os pesquisadores da FGV EAESP, Susana Pereira e Maciel M. Queiroz, juntamente com Cyntia Martins, Marcia Santiago Scarpin e Mariana Cavalcante, realizaram uma pesquisa publicada na Benchmarking: An International Journal.
A realização da pesquisa foi feita através de questionário múltipla escolha com 206 fornecedores de açaí na Amazônia brasileira que estavam em processo de certificação ou já certificados. Foi utilizada uma escala de cinco pontos variando de 1 (‘discordo totalmente’) a 5 (‘concordo totalmente’) e o questionário abordou práticas ambientais e sociais, pressões dos clientes, regulamentações governamentais e desempenho operacional. As pesquisas foram realizadas presencialmente devido ao baixo nível de educação dos entrevistados e ao fato de estarem localizados em comunidades ribeirinhas distantes das grandes cidades. Os respondentes desta pesquisa eram principalmente pequenos produtores agroextrativistas com mais de 50 anos. Deve-se notar que a cadeia em questão envolve produtores mais experientes com baixo nível educacional.
A pesquisa identificou que as regulamentações governamentais e a certificação desempenham papéis cruciais na promoção de práticas socioambientais pelas empresas. Em economias emergentes como o Brasil, quando o governo não apoia políticas sustentáveis, as empresas assumem esse papel, integrando práticas sustentáveis em sua cadeia de suprimentos. A certificação não só contribui para a sustentabilidade agrícola e comércio justo, mas também reflete os valores da empresa em sustentabilidade.
Em conclusão, empresas focais desempenham um papel-chave como financiadoras e colaboradoras, estabelecendo relações próximas com os produtores e facilitando o acesso a mercados de nicho. A pesquisa também mostrou que a pressão dos clientes tem influência positiva nas práticas sociais e ambientais das empresas. Além disso, a certificação orgânica atua como um moderador, fortalecendo a relação entre a pressão dos clientes e a implementação de práticas ambientais. Esses resultados sublinham a importância de políticas governamentais e incentivos que promovam práticas de certificação orgânica e sustentabilidade.