As restrições de circulação impostas pela pandemia impactaram diretamente os mercados acessados pelos pequenos produtores, alterando, também, a dinâmica de escoamento da sua produção. Pesquisa do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da FGV EAESP mostra que alguns grupos de pequenos produtores rurais da Mata Atlântica começaram a ter contato direto com seus clientes com as vendas online, processo que encurtou suas cadeias de produção e comercialização de produtos.
A pesquisa entrevistou de forma on-line 15 produtores rurais, representantes de diferentes segmentos de mercado, gestores públicos e acadêmicos entre os meses de julho e agosto de 2020 para tentar entender as mudanças nas suas dinâmicas de produção durante a pandemia. Ao todo, foram contemplados 22 mercados nos territórios atendidos pela Conexão Mata Atlântica e em municípios próximos, no estado de São Paulo.
“A agricultura familiar tem o potencial de contribuir para a conservação ambiental e, quando alcança formas para garantir sua viabilidade econômica a médio e longo prazos, reforça seu papel social na produção de alimentos e na garantia de renda para as famílias no campo”, explica Manuela Santos, gestora de projetos do FGVces.
Os pequenos produtores rurais entrevistados pela pesquisa perceberam um aumento da procura por alimentos orgânicos, agroecológicos ou feitos por produtores locais depois de veiculadas campanhas com o intuito de promover o comércio local. Além do sucesso dessas campanhas, a pesquisa aponta a articulação em rede como uma estratégia importante para enfrentar os desafios do novo cenário. Os produtores rurais trabalhando em redes, ainda que informais, tiveram mais agilidade e eficiência em encontrar novas estratégias para escoar sua produção.
Esse foi o caso do coletivo “Morro das Panelas”, uma iniciativa de comercialização conjunta surgida em março de 2020 em Peruíbe, São Paulo, que iniciou com nove produtores da região. Em entrevista, a mobilizadora do grupo contou que a experiência tem gerado vantagens para os produtores tais como a regularidade dos pedidos e a venda por um preço mais atrativo em relação aos praticados anteriormente por intermediários. Além disso, há um incentivo maior aos produtores de diversificarem sua produção, para atender a necessidade dos consumidores.
Apesar desses benefícios, muitos produtores ainda têm dificuldade de acompanhar o processo de digitalização e de se aproximar dos seus mercados consumidores. Assim, os pesquisadores destacam a urgência de se fomentar iniciativas mais inclusivas de comercialização destes produtos.
Fortalecimento das cadeias de valor
Os achados da pesquisa foram possíveis por conta de um trabalho de promoção de acesso de produtores a mercados qualificados com produtores do estado de São Paulo, realizado pelo FGVces dentro do âmbito do projeto Conexão Mata Atlântica — iniciativa do governo federal para aumentar a proteção da biodiversidade que, no estado de São Paulo, é coordenado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente.
O projeto foi desenvolvido em quatro territórios compreendidos em Unidades de Conservação: Estação Ecológica de Bananal, dos Núcleos Santa Virgínia, Itariru do Parque Estadual da Serra do Mar e da Área de Proteção Ambiental São Francisco Xavier.
Para fortalecer as cadeias de valor promissoras e relevantes dos territórios, aproximando produtores e mercados potenciais, a equipe do FGVces realizou um conjunto de ações, como reuniões comerciais com potenciais compradores e articulação com gestores de políticas públicas, desenhadas a partir de um diagnóstico com olhar estratégico sobre os territórios e cadeias de valor.