Apesar do que a expressão semanticamente possa sugerir, “transferir conhecimento” entre duas organizações é mais do que apenas repassar o conhecimento de um contexto para outro.
Ao analisar de maneira qualitativa o caso da maior instituição pública de pesquisa agropecuária no Brasil, pesquisadores chegaram à conclusão de que somente a “codificação” do conhecimento (em manuais, publicações ou fichas técnicas) é insuficiente para garantir que o conhecimento chegasse às empresas licenciadas pela instituição.
“Os resultados do estudo apontam que, a despeito da diversidade de mecanismos disponíveis (que variam desde reuniões, cursos, visitas, dias de campo, unidades de observação), o processo de transferência entre a Instituição de Pesquisa e as empresas é caracterizado pelo uso mais intensivo de mecanismos de codificação (em lugar dos métodos de personalização, os quais são fundamentais na transferência de conhecimento tácito)”, explicam os autores, dentre os quais está Anderson de Souza Sant’anna, pesquisador e professor da FGV EAESP.
Diante desses achados, a sugestão dos pesquisadores é que a transferência de conhecimento entre organizações deva acontecer como um processo relacional, que requer aprendizagem contínua – especialmente nos casos em que o tipo de conhecimento a ser transferido seja de natureza complexa, como é o caso das cultivares de milho da instituição analisada.
“Ainda que a Instituição de Pesquisa codifique esses conhecimentos em manuais, publicações e fichas técnicas, tais ações não parecem suficientes para permitir uma efetiva exploração da tecnologia no campo das empresas licenciadas”, salientam os autores.
De acordo com a pesquisa publicada, alguns dos gargalos do processo de transferência de conhecimento interorganizacional (como baixa integração social entre as as partes, dificultando o diálogo e o relacionamento; emergência de conflitos relacionais em razão das diferenças culturais; e dificuldades de aplicação da tecnologia pelas empresas licenciadas, inibindo o potencial de inovação do processo) poderiam ser atenuados com a adoção de mecanismos de personalização, como possibilitar ampla interação pessoal entre as partes e/ou incentivar o compartilhamento de experiências e aprendizagem conjunta.
Esse tipo de atitude, segundo os pesquisadores, poderia permitir que tais barreiras fossem superadas e o conhecimento transferido com mais sucesso. “Os mecanismos de personalização são variáveis essenciais quando se pensa em processos de transferência de conhecimento bem-sucedidos, sobretudo quando o conhecimento objeto da transferência possui natureza complexa”, reforçam os autores.