Apesar de promover ambientes de trabalho mais justos, a transparência salarial apresenta desafios significativos em sua implementação no mercado nacional. A prática é amplamente desejada pelos brasileiros, principalmente por contribuir para o enfrentamento à disparidade salarial entre gêneros e à falta de oportunidades para grupos minoritários. Por outro lado, a revelação aberta dos salários pode resultar em insatisfação e diminuição da produtividade entre os colaboradores, além de prejudicar o relacionamento interpessoal na equipe, por exemplo. Equilibrar a divulgação de informações salariais e a preservação de um ambiente colaborativo é essencial para enfrentar esses desafios e alcançar os benefícios associados à transparência salarial.
A análise está em artigo publicado pelos pesquisadores da FGV EAESP Paul Ferreira e Tiago Molon, em colaboração com o líder corporativo Luiz Valente, na revista “MIT Sloan Management Review Brasil”. A partir de uma pesquisa sobre a opinião dos brasileiros em relação à transparência salarial, os autores trazem dados e reflexões sobre a prática e os desafios para sua implementação no país.
A pesquisa mostra que nove em cada dez entrevistados apoiam práticas de divulgação de dados salariais, e três em cada quatro acreditam que as empresas não são transparentes sobre as remunerações de seus colaboradores. Os autores explicam que um dos efeitos mais esperados da iniciativa é a redução da diferença salarial entre homens, mulheres e outros grupos minoritários. Segundo o estudo, mais da metade das profissionais do sexo feminino relatam já terem sofrido esse tipo de discriminação, ressaltando a relevância da transparência salarial na busca por uma sociedade mais justa e equitativa.
Profissionais apresentam conflito de opiniões em relação à transparência salarial
Apesar de considerarem a prática positiva e necessária, mais da metade dos entrevistados concordam que ela pode trazer empecilhos a suas carreiras. Segundo os pesquisadores, a exposição salarial pode fazer com que alguns funcionários se sintam injustiçados ao ver a remuneração de outros colegas, levando a uma diminuição em sua produtividade. Os gerentes, por exemplo, sentem maior desconforto em discutir o salário com os parceiros, possivelmente temendo impactos no ambiente de trabalho pela diferença de ganhos. Dessa forma, os colaboradores apresentam um dilema entre desejar maior clareza no setor e temer os efeitos de uma maior transparência no dia a dia.
Para os autores, as empresas devem adotar medidas para enfrentar os desafios impostos pela transparência salarial, desde políticas pontuais até uma mudança na cultura da companhia. Isso inclui, por exemplo, comunicar de forma assertiva os motivos e benefícios da prática, formular e divulgar políticas de remuneração compreensíveis e priorizar a eliminação da disparidade salarial entre homens, mulheres e outros grupos subrepresentados. Os pesquisadores destacam que um bom planejamento na implementação dessa iniciativa pode contribuir para criar ambientes de trabalho mais igualitários e socialmente justos.