Em democracias, espera-se que os tribunais tomem decisões imparciais, mas quando julgamentos envolvem políticos de alto escalão, a percepção pública muitas vezes tem influência de afinidades partidárias. No Brasil, um contexto marcado por escândalos de corrupção e polarização política, os casos envolvendo figuras como Lula e Bolsonaro desafiam a confiança nos tribunais. Desse modo, um estudo explora como as preferências políticas afetam a forma como os cidadãos avaliam decisões judiciais em cenários de alta polarização.
Lúcia Barros (FGV EAESP), Carlos Pereira e André Klevenhusen (FGV EBAPE) conduziram a pesquisa agora disponível na revista Governance. Utilizando um experimento realizado durante a eleição presidencial de 2022, foram entrevistados 1.000 participantes de diversas filiações políticas. Assim, eles responderam a cenários fictícios envolvendo acusações de corrupção contra Lula e Bolsonaro, com diferentes resultados de julgamento (absolvição ou condenação). Os pesquisadores analisaram variáveis como confiança, percepção de corrupção e motivação política por meio de regressões lineares.
Os resultados revelaram que as afinidades políticas desempenham papel crucial na confiança nos tribunais nas decisões judiciais.
Quando uma decisão judicial é consistente com as preferências eleitorais dos cidadãos, eles estão mais inclinados a confiar na decisão judicial e vice-versa. Portanto, quando o julgamento punia um político não preferido, os cidadãos demonstravam maior confiança no tribunal. Por outro lado, as pessoas viam como legítimas e não problemáticas as decisões favoráveis ao político preferido, mesmo quando havia suspeitas de corrupção.
Outro resultado significativo foi que decisões envolvendo Lula foram percebidas como mais politicamente motivadas do que aquelas relacionadas a Bolsonaro. Além disso, os participantes que apoiavam outros candidatos demonstraram atitudes mais imparciais em relação às decisões judiciais, sugerindo que o viés de afinidade é mais forte entre eleitores polarizados.
Ademais, a pesquisa também evidenciou que os cidadãos acreditam que os tribunais interfiram diretamente nas eleições, impedindo candidatos de concorrer, independentemente da base legal. Esse comportamento reflete a crença de que o sistema judiciário deve alinhar-se às suas preferências políticas, colocando em xeque a imparcialidade judicial.
Portanto, pesquisadores afirmam que a influência das preferências políticas nas atitudes em relação ao judiciário aponta para desafios significativos no fortalecimento da legitimidade institucional. Em países polarizados como o Brasil, compreender a dinâmica da confiança pública no judiciário pode auxiliar na formulação de estratégias para promover maior transparência e imparcialidade nas decisões judiciais.
Por fim, a pesquisa destaca a importância de combater a percepção de motivação política nas decisões judiciais e reforçar a independência do sistema judicial para sustentar a democracia em tempos de intensa polarização.
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