A pandemia de COVID-19 impôs desafios sem precedentes aos governos em todo o mundo. Enquanto algumas nações conseguiram responder rapidamente, outras enfrentaram dificuldades na contenção do vírus. Um estudo recente publicado na Brazilian Political Science Review, realizado pelo pesquisador da FGV EAESP Gustavo de Almeida Lopes Fernandes em parceria com Ivan Filipe Fernandes, analisou como as capacidades de governança influenciaram a resposta à crise nos países em desenvolvimento. O estudo identificou que a eficácia na gestão da pandemia esteve diretamente relacionada à capacidade dos governos de coordenar recursos, tomar decisões estratégicas e cooperar internacionalmente.
Os pesquisadores utilizaram dados do Oxford COVID-19 Government Response Tracker (OxCGRT) e do Índice de Transformação da Bertelsmann Stiftung (BTI) para avaliar a capacidade de governança de 129 países em desenvolvimento. Foram analisados quatro componentes principais: capacidade de direcionamento, eficiência de recursos, construção de consenso interno e cooperação internacional. Modelos estatísticos foram aplicados para verificar como essas dimensões impactaram os números de casos e mortes durante os primeiros dez meses da pandemia.
Os resultados indicam que a capacidade de governança eficiente foi um fator crucial para conter a disseminação da COVID-19.
Dessa maneira, países com forte capacidade de governança reduziram em até 50% o número de mortes e casos confirmados. Isso mesmo quando adotavam medidas semelhantes de restrição social.
Entre as dimensões analisadas, a cooperação internacional foi a mais relevante. Estados que buscaram informações e recursos de parceiros globais responderam melhor à crise, conseguindo implementar medidas mais eficazes e rápidas. Além disso, o uso eficiente de recursos também foi fundamental, garantindo que sistemas de saúde não entrassem em colapso e permitindo a alocação adequada de equipamentos e profissionais.
A capacidade de direcionamento do governo, ou seja, sua habilidade de definir e implementar políticas públicas rapidamente, também mostrou impacto positivo. No entanto, a dimensão da construção de consenso interno apresentou resultados menos consistentes. Em alguns países, o debate prolongado sobre medidas restritivas prejudicou a resposta rápida à pandemia.
Ademais, o estudo reforça a importância de governos preparados e bem estruturados para lidar com crises globais. Além de recursos financeiros e infraestrutura, a capacidade de articular políticas eficazes e de se conectar com a comunidade internacional são elementos determinantes para minimizar os impactos de futuras pandemias.
Por fim, a pesquisa evidencia que investir no fortalecimento da governança é uma estratégia essencial para garantir maior resiliência e eficiência em situações emergenciais. Isso é especialmente válido para países em desenvolvimento.
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