O filme Ainda Estou Aqui (2024) retrata a história do desaparecimento de Rubens Paiva, que foi um ator importante na CPI que investigou o Ipes e suas táticas de propaganda, sendo esse um dos motivos que levou à sua cassação pela ditadura.
Nos anos 1960, o Brasil vivenciou um período turbulento de tensões políticas e sociais. Nesse contexto, elites empresariais desempenharam um papel significativo na construção de narrativas que moldaram a trajetória política do país. Uma organização crucial foi o Instituto de Pesquisas Sociais (Ipes), que, através de curtas-metragens e outros meios de comunicação, difundiu mensagens anticomunistas e pró-mercado. Assim, influenciou decisivamente a opinião pública e pavimentou o caminho para o golpe militar de 1964.
Nesse contexto, uma pesquisa utilizou Análise Temática para examinar 14 curtas-metragens produzidos pelo IPES entre 1961 e 1972. O estudo também se baseou em fontes secundárias, como artigos de jornais e revistas da época, para interpretar o conteúdo e os metadados dos filmes como documentos históricos. Portanto, o objetivo foi analisar o impacto das associações de interesse empresarial (AIEs) na formulação de políticas públicas por meio de esforços coordenados. O pesquisador da FGV EAESP Amon Barros publicou seus achados na revista Business History com os pesquisadores Denise Barros e Sérgio Wanderley.
O papel do IPES como Associação de Interesse Empresarial
O Ipês, fundado pela elite empresarial brasileira, tinha como objetivo combater o avanço do comunismo, moldando a opinião pública por meio de estratégias midiáticas. Entre essas, destacam-se os curtas-metragens, exibidos obrigatoriamente antes de filmes em cinemas, como ferramentas de propaganda. Sendo assim, esses filmes combinavam técnicas audiovisuais sofisticadas e narrativas dramáticas para amplificar o medo do comunismo e criticar o governo de João Goulart.
Vale ressaltar que o filme Ainda Estou Aqui (2024) retrata a história do desaparecimento de Rubens Paiva, que foi cassado nos primeiros momentos do golpe militar de 1964, em parte devido à sua atuação na CPI que investigou o financiamento do Instituto de Pesquisas Sociais (Ipes) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). Enquanto o Ipês, responsável pelos curtas aqui retratados, sobreviveu à CPI, o Ibad foi extinto.
O pânico moral como estratégia ideológica em curtas-metragens
O conceito de pânico moral foi central na estratégia do IPES. Filmes como “O Brasil Precisa de Você” retratavam um cenário distópico em que a continuidade das políticas progressistas levaria o país ao caos. Portanto, a narrativa apresentava o comunismo como “demônio popular”, associando-o a greves, inflação e instabilidade social, enquanto enaltecia a iniciativa privada como única solução.
Além disso, os filmes não apenas moldaram percepções públicas, mas também prepararam o terreno para ações políticas coordenadas que culminaram no golpe militar de 1964. Sendo assim, a abordagem do Ipês exemplifica como associações de interesse empresarial podem influenciar a formulação de políticas públicas e impactar a história de um país.
Além de sua influência política direta, os filmes do Ipês são hoje artefatos históricos valiosos. Eles mostram como a mídia pode ser usada para construir narrativas ideológicas, enquadrar crises e promover agendas específicas.
Por fim, este estudo evidencia o papel das elites empresariais e da propaganda no contexto político brasileiro, oferecendo ideias relevantes para compreender as relações entre mídia, empresas e Estado na formulação de políticas públicas.
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