O aumento da taxa de juros em meio à incerteza dos períodos de recessão e pandemia atende aos interesses do setor financeiro. Portanto, a medida não contribui para a queda de preços no Brasil. É o que apontam os pesquisadores Carmem Feijó, Eliane Cristina Araújo e o professor emérito da FGV EAESP Luiz Carlos Bresser-Pereira, em artigo publicado na revista “Brazilian Journal of Political Economy” sobre a política monetária brasileira.
Uma das variáveis analisadas pelos autores é o movimento da taxa de juros SELIC de 2014 a 2021. Entre 2015 e 2016, período de recessão e implementação de políticas de austeridade fiscal, o Produto Interno Bruto (PIB) teve queda acumulada de 6,7%. O início da pandemia, em 2020, contribuiu para a tendência de estagnação da economia brasileira, com elevada desvalorização do real.
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de aumentar a taxa de juros a partir de 2021 teve como objetivo controlar a alta de preços em um cenário de muita demanda e pouca oferta. O objetivo foi reduzir a atividade econômica e o emprego para evitar que a elevação de custos fosse repassada aos preços. Porém, a alta na taxa de juros não interfere nas causas do aumento da inflação, argumentam os autores.
Política monetária não soluciona desaceleração da economia
Segundo aponta a pesquisa, as alterações na taxa de juros SELIC não têm eficácia para interferir no índice de preços das commodities, que é regulado por fatores externos. Isso acontece porque a economia brasileira vem se caracterizando pela desindustrialização, com baixo crescimento e centralidade na exportação de commodities.
Os autores argumentam que a taxa de juros não seria o melhor instrumento de política monetária, sobretudo diante das incertezas sobre a evolução da pandemia. Ao desacelerar a economia, tal medida contribui para a perda de competitividade da indústria e do emprego. Por consequência, favorece a concentração de renda e riqueza na classe dos rentistas.