A exclusão dos serviços financeiros formais na América Latina e Caribe afeta principalmente pessoas com níveis de renda e escolaridade mais baixos. Os 20% mais pobres da América Latina são menos propensos a manter conta bancária ou poupança em bancos e corretoras, embora tendam a realizar mais empréstimos comparados a pessoas pertencentes a faixas de renda mais altas. Os achados dos pesquisadores Victor Motta e Lauro Gonzalez, do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGV Cemif) da FGV EAESP, estão publicados na edição de quarta (1) da revista “Development in Practice”.
O estudo utiliza informações do banco de dados Global Findex de 2014 do Banco Mundial, que inclui uma pesquisa sobre inclusão financeira de cerca de 150 mil adultos em 143 países. Para realizar a análise, os autores selecionaram uma amostra aleatória de 16.536 adultos em 18 países da América Latina e Caribe. Na região, 44% das pessoas têm acesso a uma conta bancária em uma instituição financeira formal. Porém, apenas 14% mantêm conta poupança e 9% obtêm empréstimos formais.
“Na América Latina e Caribe, a proporção de indivíduos que possuem conta bancária é maior do que em outras regiões em desenvolvimento, mas ainda há bastante heterogeneidade. Por exemplo, a média para a América Latina e Caribe é de 44%, mas no caso brasileiro, 70% dos indivíduos possuem conta bancária”, comenta Victor Motta, um dos autores do estudo. Sobre a tendência observada nos países estudados, o pesquisador comenta: “Na América Latina e Caribe, o problema é muito maior em relação ao uso da conta em si (baixa movimentação) do que ao acesso a uma conta bancária”.
A pesquisa aponta que as mulheres têm maior probabilidade de acessar serviços como conta corrente, poupança e empréstimo e utilizar cartão de débito e crédito. “Uma explicação potencial para este efeito positivo pode ter relação com o aumento da digitalização de pagamentos feitos por meios eletrônicos e a capilaridade das transferências de renda condicionadas na América Latina (por exemplo, o Bolsa Família, no Brasil, e o Oportunidades, no México), que geralmente têm as mulheres como beneficiárias”, observa Victor Motta. Segundo o artigo, as mulheres também são mais propensas a recorrer a empréstimos de fontes informais, como parentes e serviços de crédito de lojas, do que os homens.
Apesar de as tecnologias digitais não serem suficientes para garantir inclusão financeira, a facilidade de acesso pode ajudar a diminuir o número de indivíduos sem conta bancária. Conforme o estudo, é necessário haver direcionamento de políticas públicas para jovens de estratos de renda e escolaridade mais baixos, considerando obstáculos para o uso dos serviços formais associados a esta população, como distância das agências bancárias, custos de abertura de contas e tipo de documentação exigida.