O Sistema Único de Saúde no Brasil é referência em atendimento universal à saúde no mundo, mas entrou em colapso durante a pandemia da Covid-19. Pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) mostram que a falta de coordenação do Ministério da Saúde teve papel determinante neste colapso, ao deixar regiões sem leitos e insumos, como respiradores.
A pesquisa analisou a resiliência do sistema e evidenciou a importância de uma rede integrada de atendimento e da necessidade de atenção dos governos sobre a saúde pública. A análise buscou classificar fortalezas, fragilidades e desafios de estrutura e organização do SUS que influenciam na pandemia, utilizando um modelo de análise de resiliência de sistemas de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As áreas analisadas incluem liderança e governança, financiamento, produtos estratégicos para a saúde, força de trabalho, urgência e emergência, saúde digital e informação em saúde e prestação de serviços (ações de saúde pública e vigilância; atenção primária em saúde; atenção especializada e hospitalar).
Segundo os pesquisadores, grande parte das fragilidades apontadas têm relação com a gestão do sistema pelo Ministério da Saúde, além da falta de investimento e prioridade em melhorias. Entre elas, estão a não articulação de compras conjuntas entre estados e municípios para manutenção de estoques de segurança de insumos e EPIs, a alocação da maioria dos leitos em hospitais de pequeno porte que não poderiam atender com o suporte necessário para casos graves de Covid-19 e a falta de um sistema de informação integrado.
Adriano Massuda, co-autor do estudo, explica que a falta de coordenação nacional agravou problemas estruturais do SUS. “O sistema viabilizou a expansão da cobertura de atenção básica, mas a atenção hospitalar permaneceu concentrada em poucos centros urbanos e no setor privado. Além da insuficiência de leitos hospitalares, a frágil integração de redes assistenciais em regiões de saúde gera duplicação de filas e desperdício no uso desses escassos recursos”, analisa o pesquisador.
Austeridade fiscal afeta gestão de saúde pública no Brasil
Durante a crise no sistema com a pandemia, o SUS chegou a ser criticado pela falta de suporte no atendimento. De acordo com os pesquisadores, dispor de um sistema universal como é o SUS deveria ser uma fortaleza para o país enfrentar situações de emergência de saúde pública – como foi resposta em outras situações crise como nas epidemias de H1N1, dengue e zika. Entretanto, a combinação de crises política e econômica, seguidas por políticas de austeridade fiscal, além de terem reduzido recursos para o SUS, tem deteriorado a capacidade de gestão de saúde pública, levando a um aumento de ineficiências e desperdício.
Em conclusão, os especialistas resumem que a pandemia evidenciou a importância de um sistema público de saúde resiliente. “Eles são essenciais não só para a efetivação do direito à saúde, mas também para a manutenção de atividades sociais e econômicas. Num cenário pós-Covid-19, fortalecer o SUS e aprimorar sua gestão devem estar na agenda da saúde e de outros setores da sociedade”, finaliza Massuda.
Confira a pesquisa na íntegra no Cadernos EBAPE