Tele atendimentos médicos com o uso de inteligência artificial (IA) ajudaram a reduzir a sobrecarga do sistema de saúde durante a pandemia de Covid-19. A conclusão é de um grupo de pesquisadores do Instituto Laura Fressatto (de Curitiba), da PUCPR, e da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), que analisaram o uso de uma plataforma de telessaúde em três cidades brasileiras durante a pandemia de Covid-19: Curitiba, São Bernardo do Campo e Catanduva. Os resultados da pesquisa estão na revista científica “Frontiers in Digital Health”.
Os pesquisadores detectaram que, ao interagir com a plataforma de chatbot, que faz atendimentos por meio de conversas estruturadas, quase metade (45%) dos mais de 24 mil pacientes atendidos foram classificados com sintomas leves, cerca de 30% foram diagnosticados com sintomas moderados e apenas 14,2% foram apontados como casos graves de Covid-19. Dessa forma, o acesso ao sistema de saúde passa a acontecer de maneira coordenada, apenas para alguns casos em específico.
“No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal fonte de atendimento para 75% da população, portanto previa-se uma saturação do sistema com o aumento contínuo de casos. Com o uso da plataforma, a redução da sobrecarga acontece justamente pela identificação de casos leves e, eventualmente, de casos moderados, que são monitorados à distância”, contextualiza Adriano Massuda, pesquisador da FGV EAESP e um dos autores do estudo. “O uso de inteligência artificial (IA) permitiu capacitar os atendimentos de telessaúde a ajudar a resolver esse gargalo, aumentando o acesso coordenado dos pacientes ao sistema de saúde, priorizando a recomendação de buscar um hospital apenas nos casos mais graves”, analisa Massuda.
Os autores concluem que a implementação de plataformas de telessaúde com base em IA pode aumentar o acesso dos pacientes aos atendimentos de saúde de maneira segura, especialmente diante de uma situação tão inédita quanto a pandemia de Covid-19. “Implementar um sistema de tele atendimento no Brasil foi possível e pode ajudar a reduzir a sobrecarga nos sistemas de saúde”, concluem os autores.
“No entanto, para que tais atendimentos sejam bem sucedidos, é crucial que as plataformas possam se adaptar a necessidades locais, o que deve incluir a possibilidade de fazer alterações na árvore de decisão dos algoritmos dos chatbots”, pondera Hugo Morales, do Instituto Laura Fressato. Com base nos resultados do estudo, a recomendação dos autores é apostar em uma política nacional de transformação digital de saúde, que possa guiar e melhorar a adoção de tecnologias inovadoras, como os chatbots de atendimento, a nível municipal.