Nos últimos 30 anos, o Balanced Scorecard (BSC) se consolidou como uma ferramenta essencial para a gestão de desempenho e estratégica. Foi amplamente adotado devido à sua flexibilidade e capacidade de alinhar estratégias organizacionais com resultados mensuráveis. Embora inicialmente desenvolvido para organizações privadas, o BSC teve uma adaptação para o setor público. No entanto, essa aplicação gerou debates sobre sua eficácia em organizações que não visam lucro, como instituições governamentais e sem fins lucrativos.
Para investigar a trajetória do BSC no setor público, os pesquisadores Ricardo Correa e Clóvis de Azevedo, da FGV EAESP, realizaram uma revisão sistemática da literatura usando o banco de dados Web of Science. Eles analisaram 2.815 artigos publicados entre 1992 e 2022, dos quais 36 tratavam da Administração Pública. O estudo foi publicado na International Journal of Public Administration. Assim, ele apresenta duas frentes: uma análise bibliométrica, que identificou autores, países e periódicos mais influentes, e uma análise semântica, que explorou a aplicação do BSC no setor público.
Os resultados mostraram que governos locais utilizam mais o BSC para a medição de desempenho em áreas como serviços de água, saúde e educação. A China e os Estados Unidos lideram a produção acadêmica sobre o tema, com destaque para autores como Hasan Dincer e Serhat Yuksel. Além disso, a análise destacou que o termo “desempenho” é o mais frequente nos resumos dos artigos. Isso reflete o foco do BSC como uma ferramenta de gestão de desempenho.
Apesar da utilidade do BSC na gestão do desempenho, a pesquisa apontou desafios na sua aplicação no setor público.
A principal diferença entre o uso no setor privado e no público está nas missões dessas organizações. Enquanto empresas privadas buscam maximizar lucros, as organizações públicas precisam equilibrar os interesses de múltiplos stakeholders, o que demanda ajustes no modelo tradicional. Muitos governos locais, por exemplo, adaptam a perspectiva financeira do BSC para priorizar a missão pública.
O BSC é estruturado em quatro dimensões principais que sustentam o desempenho organizacional. A primeira é a dimensão financeira, com foco para resultados monetários e criação de valor, que no setor público costuma ter adaptação para eficiência no uso de recursos. A segunda é a de clientes, que mede a satisfação e o relacionamento com stakeholders, como cidadãos e pacientes. A terceira dimensão avalia os processos internos, focando na eficácia operacional e melhorias contínuas. Por fim, a dimensão de inovação e aprendizado trata do desenvolvimento de competências e inovação, garantindo que a organização esteja preparada para o futuro. Essas quatro dimensões fornecem uma visão equilibrada, integrando metas de curto e longo prazo, além de aspectos financeiros e não financeiros.
A pesquisa concluiu que o BSC tem se mostrado útil no planejamento estratégico e na gestão de desempenho de organizações públicas. Contudo, estudos futuros de longo prazo são necessários para avaliar o impacto real e sustentável do BSC nessas organizações, especialmente em contextos de maior complexidade e múltiplos stakeholders.
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