A parcela de trabalhadores invisíveis, que estão fora do escopo de programas de transferência de renda do governo brasileiro é ainda maior do que os 38 milhões de invisíveis que recebem o auxílio emergencial, mas não constam no Cadastro Único do Governo Federal. Mais de 18 milhões de trabalhadores se somam a eles — são pessoas que não receberam o auxílio emergencial e nem são beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada, apesar de terem baixa renda.
Esses são os resultados de um levantamento inédito feito pelo Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVcemif) da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), que descreve o perfil do trabalhador brasileiro que não recebeu o auxílio emergencial. O relatório foi publicado nesta quinta (12).
Partindo dos dados da última versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, os pesquisadores descreveram as faixas de renda, o gênero e a raça dos trabalhadores que não receberam auxílio emergencial. Eles também levantaram o percentual de trabalhadores informais que recebem até um salário mínimo, numa tentativa de descrever as principais características da informalidade durante a pandemia de Covid-19.
Com relação à renda, 38% dos respondentes da Pnad Covid-19 declararam ter uma renda de, no máximo, salário mínimo. As mulheres (58%) e pessoas que se autodeclaram pretos e pardos (56%) predominam entre os mais pobres, que não receberam o auxílio emergencial. Cerca de 94% destes trabalhadores não recebem Bolsa Família nem o Benefício de Prestação Continuada.
Sobre a informalidade, o estudo aponta que 37% dos trabalhadores informais possuem uma renda que não supera um salário mínimo. Para 14% dos informais, essa renda não supera sequer meio salário mínimo. A maioria (93%) dos informais de renda mensal menor ou igual a um salário mínimo não solicitaram crédito, muito provavelmente porque sabiam que o resultado provável seria negativo, analisam os pesquisadores.
“Enquanto relativamente poucos conseguiram se proteger do vírus trabalhando em casa durante a pandemia, o trabalhador informal enfrentou uma combinação de extensas jornadas de trabalho, baixa remuneração e quase nenhum mecanismo de proteção social”, analisa Lauro Gonzalez, coordenador do estudo.
Para ele, “é necessário redefinir o que chamamos de grupo de invisíveis de forma a incluir quem não recebeu o auxílio emergencial, mas tem renda reduzida”. O fato de não terem que fornecer dados para o auxílio emergencial faz com que essa parcela da população fique de fora do radar do CadÚnico, base de dados para a execução de políticas públicas do governo. “O CadÚnico precisa ser aprimorado para que possa acompanhar a realidade dessas famílias de menor renda de forma mais dinâmica”, complementa Lauro.
Confira o relatório:
Fonte: Agência Bori