Nos últimos anos, a democracia brasileira enfrentou sérios riscos de erosão institucional, especialmente durante o último governo. Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, até os ataques às instituições e à imprensa que culminaram em manifestações violentas contra prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, o país passou por um processo de polarização política e descontentamento social que ameaçou suas bases democráticas. Nesse contexto, uma articulação complexa entre atores nacionais e internacionais surgiu como resposta a essas ameaças.
O papel da pressão internacional se mostrou fundamental no processo de defesa da democracia no Brasil. Portanto, fez-se necessário investigar como redes transnacionais de ativistas, acadêmicos e políticos desempenharam um papel decisivo ao ampliar a pressão contra a autocratização e preservar o funcionamento das instituições democráticas no país.
A pesquisa, realizada por Guilherme Casarões da FGV EAESP, junto com Déborah Monte e Matheus Hernandez, foi publicada na revista Third World Quarterly. O estudo utilizou a metodologia de rastreamento de processos, que busca conectar eventos históricos para explicar um fenômeno específico, analisando documentos, entrevistas e dados primários. Além disso, a pesquisa examinou cinco fases cruciais de mobilização transnacional contra a autocratização no Brasil. As fases se iniciam no impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e vão até a derrota de Bolsonaro em 2022.
A pesquisa identificou três grupos principais de atores que resistiram à autocratização no Brasil e mobilizaram pressão internacional: defensores institucionais, políticos e sociais.
Enquanto os defensores institucionais (como o Judiciário e o Congresso) atuavam principalmente em âmbito nacional, os defensores políticos e sociais dependiam de redes transnacionais para aumentar os custos das ações autocráticas e manter sua legitimidade internacional. Essas redes foram essenciais para impedir a reeleição de Bolsonaro e frustrar suas tentativas de anular os resultados das eleições de 2022.
Por fim, a pesquisa conclui que as redes transnacionais desempenharam um papel fundamental na defesa da democracia brasileira. Elas têm o poder de atuar em conjunto com a sociedade civil e as instituições políticas locais. Portanto, a combinação de esforços domésticos e internacionais criou uma barreira crucial contra a autocratização, demonstrando que a luta pela democracia é interconectada globalmente. O estudo do caso brasileiro serve de inspiração para outras nações que enfrentam ameaças semelhantes. Isso porque a pesquisa mostra que a resiliência democrática depende tanto de atores locais quanto de redes globais.
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