As mudanças climáticas vêm intensificando ondas de calor em áreas urbanas, impactando diretamente a saúde da população mais vulnerável. No Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo, esse fenômeno se agrava devido à combinação da urbanização desordenada e da baixa cobertura vegetal. Assim, a ausência de infraestrutura adequada contribui para a formação de ilhas de calor, aumentando o desconforto térmico e os riscos à saúde. Diante desse cenário, os estudantes da Graduação em Administração Pública da FGV EAESP, Beatriz Magalhães, Guilherme da Cruz Santos, Ligia Forlano Fonseca e Rafaella Butori, conduziram um estudo para compreender os impactos das ondas de calor e propor políticas públicas para tornar a região mais resiliente.
O estudo foi realizado no segundo semestre de 2024, como parte do Projeto Aplicado da disciplina de Administração Pública, sob a coordenação dos professores Luis Paulo Bresciani e Hannah Arcuschin, além da monitoria de Laura Portela, aluna do mestrado acadêmico em Administração Pública. A pesquisa adotou uma abordagem mista, combinando análises bibliográficas, dados meteorológicos, documentos governamentais e interações diretas com a comunidade. Além disso, foram aplicados questionários e realizadas entrevistas com moradores, lideranças locais e representantes de entidades como a Associação Bloco do Beco e o Observatório Ibira30, parceiros da FGV EAESP no território estudado.
Os dados coletados revelam que 66% dos moradores do Jardim Ibirapuera têm renda familiar entre 1 e 1,5 salários mínimos, e 53% possuem apenas ensino médio completo ou incompleto.
A vulnerabilidade socioeconômica se agrava com as ilhas de calor, que intensificam problemas de saúde como desidratação, insolação e doenças cardiovasculares.
Além disso, a falta de áreas verdes e de infraestrutura urbana adequada potencializa os efeitos do calor extremo, especialmente em comunidades como as favelas da Erundina e Felicidade.
Para mitigar os impactos do calor, os estudantes propõem um conjunto de diretrizes de ação climática:
- Pontos de refrescamento: Instalação de espaços com ventiladores e bebedouros em locais estratégicos para oferecer alívio térmico.
- Mensagens de alerta: Implementação de um sistema de SMS em parceria com a Defesa Civil para notificar moradores sobre ondas de calor.
- Pontos de hidratação: Construção de fontes de água potável em áreas de fácil acesso, aproveitando estruturas já existentes.
- Coberturas UV-protetoras: Instalação de sombreamento nos pontos de ônibus para reduzir a exposição ao sol.
- Plano de arborização: Priorização de áreas críticas para o plantio de espécies nativas, promovendo maior sombreamento e resfriamento urbano.
O estudo reforça a importância de políticas públicas baseadas em evidências para enfrentar os desafios impostos pelas ondas de calor.
Além de mitigar os impactos na saúde da população, as propostas apresentadas contribuem para a justiça climática e a inclusão social. Porém, é sempre importante um olhar sob a ótica micro territorial, adaptando as necessidades às diversas realidades brasileiras. A adoção dessas medidas não apenas melhora a qualidade de vida dos moradores, mas também fortalece a resiliência urbana e ambiental da região.
Sendo assim, ao evidenciar as demandas de um território historicamente excluído, o projeto reforça a necessidade de incluir essas comunidades no centro das discussões sobre mudanças climáticas e saúde pública. Dessa forma, promove-se inclusão social e ambiental, assegurando que as políticas públicas não apenas respondam a necessidades emergentes, mas também contribuam para corrigir disparidades históricas de acesso a recursos e direitos.
Por fim, esse projeto aplicado exemplifica como a pesquisa acadêmica pode gerar soluções concretas para problemas urbanos, promovendo um futuro mais sustentável e equitativo.
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