No próximo dia 28 de julho comemora-se o dia mundial de luta contra hepatites virais, dentre as
quais se destaca a hepatite C, a mais grave e prevalente, conhecida por ser uma doença
silenciosa. Por não apresentar sintomas, as pessoas passam anos sem conhecer seu diagnóstico.
O Brasil destaca-se pela liderança mundial nas campanhas de testagem e distribuição de
tratamento gratuito, que atualmente atinge 95% cura. Entretanto, monitorar a evolução dos
resultados dessas ações ainda é um desafio no país.
Os dados epidemiológicos de hepatite C no Brasil não são atualizados de forma satisfatória nos
sistemas de informação do Ministério da Saúde (DATASUS). Ainda que seja possível acompanhar
anualmente a evolução da doença pelos boletins epidemiológicos tradicionalmente publicados
pelo Ministério da Saúde no mês de julho, no restante do ano os gestores locais perdem a
capacidade de analisar os indicadores dos seus municípios, regiões de saúde e estados em
perspectiva comparada dentro do país. Com isso, não há retorno ágil quanto às ações locais e
dificuldades de correção de rumos e aprimoramento dos sistemas locais.
O Tabnet, que compila os casos de Hepatite C, não é atualizado desde 2017, enquanto o Painel
de Indicadores de Hepatites Virais indica casos (registrados até 2019) e óbitos (até 2020), mas
não disponibiliza microdados para análises mais robustas. Mesmo o painel de monitoramento
lançado em fevereiro de 2020 não dá acesso a microdados e apresenta informações com algum
descompasso temporal, informando a distribuição de medicamentos até abril de 2021 e o número
de pessoas tratadas até fevereiro do mesmo ano.
Garantir que os fluxos de informação sejam divulgados o mais imediatamente possível é essencial
para auxiliar a tomada de decisão, como ficou claro durante a pandemia de Covid-19 que ainda
vivenciamos. A divulgação de dados robustos, quase que em tempo real, é crucial não só para
subsidiar ações e políticas públicas, mas também para auxiliar a população na tomada de decisão
individual.
Felizmente o DATASUS, que tem por principal objetivo estruturar sistemas de informação em
saúde e integrar dados, cresceu bastante nos últimos anos, especialmente com o lançamento de
programas como o ConecteSUS – aplicativo que registra a trajetória de atendimento do cidadão
no SUS. Apesar dos esforços, a falta de profissionais e de treinamento, inadequação dos
equipamentos e de acesso à internet nos municípios e nas unidades de saúde, seguem sendo
desafios relacionados a dados em saúde do país.
Por isso, é urgente que sejam realizados investimentos em infraestrutura municipal e capacitação
de recursos humanos. O caminho de uma possível eliminação ampla das hepatites C passa
necessariamente pela soma de um conjunto de ações de eliminação da epidemia em populações
específicas, que não poderão funcionar de forma eficiente sem dados atualizados e detalhados
em nível local.
* Carolina Coutinho é epidemiologista, pesquisadora pós-doutora EAESP/FGV, bolsista Fapesp
(2020/06990-6) e da Rede de Pesquisa Aplicada da FGV (projeto Newton Fund Institutional Links)
* Francisco Inacio Bastos é epidemiologista, pesquisador titular do ICICT/Fiocruz, pesquisador 1A
do CNPq, Investigador principal do projeto Newton Fund Institutional Links.
* Elize Massard da Fonseca, professora da EAESP/FGV, Investigadora principal do projeto Newton
Fund Institutional Links.