A pandemia de Covid-19 ampliou as desigualdades entre o Norte e o Sul global. O desenvolvimento e a distribuição prioritária das vacinas nas economias avançadas levou ao acesso tardio do produto por países emergentes, cujas economias podem ser mais negativamente afetadas pela crise sanitária. Segundo artigo dos pesquisadores da FGV EAESP Ely Paiva e Priscila Miguel em artigo publicado na revista “Organization”, é necessário discutir processos mais equilibrados para a cadeia de suprimentos global na área de saúde.
O artigo apresenta uma reflexão sobre a cadeia de fornecimento de vacinas contra a Covid-19. Os autores analisam a distribuição dos imunizantes pela ótica das cadeias globais de valor, que alertam para a assimetria de poder entre compradores e fornecedores. A concentração de poder ocorre em atividades de alto valor agregado, normalmente realizadas em países com economias mais consolidadas, ressaltam os pesquisadores.
O trabalho apresenta a metáfora do peão na partida de xadrez para explicar os processos das cadeias globais de valor: no início, o peão tem um papel menos importante diante de peças estratégicas. Este é o caso de países do Sul global que foram essenciais para a realização de testes clínicos da vacina de Covid-19, como o Brasil, mas cuja produção local é dependente de insumos importados, o que representa obstáculo para garantir a rápida imunização da população.
Em um segundo movimento no jogo, o peão chega à outra extremidade do tabuleiro e pode se tornar uma peça valiosa, como as indústrias de economias emergentes que buscam internalizar atividades de alto valor agregado. No Brasil, este é o caso da ButanVac, por exemplo, a vacina que o Instituto Butantan planeja produzir com matérias-primas locais. Este tipo de reposicionamento contribuiria para que o país não se restringisse à subordinação às tecnologias e processos do Norte global.