Com o crescimento da disseminação do novo coronavírus no país, aumentou também a preocupação com os trabalhadores que atuam na “linha de frente” do combate à pandemia. Além dos funcionários da saúde, da imprensa e da limpeza pública, entre outros, há outro grande número de profissionais que se coloca em risco todos os dias durante a pandemia: os agentes da segurança pública. Para tentar compreender o impacto da Covid-19 sobre as polícias, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) realizaram a pesquisa “A pandemia de Covid-19 e os policiais brasileiros”.
O survey online foi realizado com 1.540 profissionais da segurança pública, de todas áreas, entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020. O resultado indica que o medo é um sentimento comum para os policiais que atuam na linha de frente, uma vez sendo menos preponderante entre os profissionais paulistas na comparação com as outras unidades da federação. Segundo os dados coletados, 59,7% dos policiais civis e militares no Estado de São Paulo sentem medo de contrair ou ter algum familiar contaminado pelo novo coronavírus, percentual significativamente menor do que entre os policiais de outros estados, que chega a 68,8%.
“A pesquisa mostra a vulnerabilidade dos nossos policiais na exposição cotidiana ao novo coronavírus durante o trabalho. Ela traz sinais claros da necessidade de os nossos chefes de polícia e governadores se preocupem ainda mais com a saúde do policial nesse momento de crise”, avalia Rafael Alcadipani, professor da FGV EAESP e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Isso pode ser feito a partir da análise de como seu o trabalho de outras polícias do mundo e assim evitemos repetir os mesmos erros cometidos em outros lugares”.
Apesar de sentirem menos medo, os policiais de São Paulo, epicentro da doença até o momento, têm mais proximidade com o vírus do que nos outros estados: enquanto 55% dos agentes paulistas têm algum colega ou familiar com suspeita da doença ou que tenha sido infectado, apenas 40,8% responderam da mesma forma no resto do país.
A pesquisa também mostrou que mais da metade dos policiais não se sente pronto ou não soube responder se está preparado para atuar em meio à pandemia. Apesar de superior à média dos demais estados, apenas 39,2% dos policiais de São Paulo sentem-se preparados para trabalhar durante a crise do novo coronavírus. Nas demais unidades federativas, o número cai para 30,6%. Esses números podem ser explicados a partir de outro indicador do questionário. Quase metade dos policiais civis e militares de São Paulo (46%) relata ter recebido Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados para exercerem o trabalho com segurança, uma média 43% superior à dos demais estados, que somam apenas 32,1%.
“Além desses materiais de proteção individual e coletiva, é importante que os profissionais da segurança pública sejam treinados de forma padronizada, a partir das diretrizes do Ministério da Saúde. Isso é imprescindível para que se sintam mais seguros no dia-a-dia”, explica Alcadipani.
Em relação a essas orientações, o estado de São Paulo também se mostrou bastante à frente das outras unidades federativas: 34% dos policiais afirmam ter recebido algum tipo de treinamento, enquanto apenas 15,4% relatam o mesmo nos demais estados.
A pesquisa ainda abordou um último indicador – mais de 80% dos policiais civis e militares brasileiros afirmaram que a crise alterou as formas como se relacionam com a população. Isso se explica pelo fato de que o trabalho policial pressupõe um contato diário com o cidadão, em abordagens ou no atendimento em Distritos Policiais. “Com menos pessoas circulando nas ruas e reduzido o número de atendimentos presenciais nas delegacias, houve mudança nas práticas policiais. Isso mostra que as medidas de isolamento social afetam o cotidiano desses profissionais”, completa Alcadipani.
Mais de 70% dos 1.540 entrevistados na “A pandemia de Covid-19 e os policiais brasileiros” têm mais de 10 anos de serviço. No que se refere a vínculos prévios com os territórios onde atuam, em São Paulo, 35,2% do efetivo de policiais civis e militares não possuem ligação anterior com a localidade que trabalha. Por outro lado, 46,5% teria nascido na região e 15,8% possui vínculos anterior com o município que atua. Os demais 2,5% são aqueles que ou nasceram em região próxima ou não especificaram nada nessa pergunta. Para o conjunto dos demais 26 estados, o número segue uma distribuição parecida – 35,6% não possuem vínculos prévios; 45,8% nasceram na região, 15,9% possuem outros tipos de vínculos e 2,7% alegaram ter outras relações com a região, como proximidade de moradia.