A revitalização das áreas centrais e o incentivo ao transporte público eram objetivos comuns a duas cidades de médio porte do Japão diante da diminuição do número de habitantes. Porém, em uma dessas cidades, a estratégia de integração dos sistemas de transporte a outras melhorias urbanas trouxe resultados mais promissores para a redução de emissões de gases de efeito estufa.
A constatação é dos pesquisadores Osman Balaban, da Middle East Technical Universit (Turquia), e José Antonio Puppim de Oliveira, da FGV EAESP. Em estudo realizado entre 2010 e 2021, os autores entrevistaram dez atores de relevância nas políticas públicas de Toyama e Kanazawa, cidades na região oeste do Japão que vêm se esvaziando a partir da última década por conta da desaceleração da economia local e do envelhecimento da população.
A partir de 2005, Toyama adotou estratégias como a conexão de novas linhas de veículos leves sobre trilhos (VLT) à rede de transporte já disponível na cidade. O governo local também subsidiou a operação de rotas de ônibus não rentáveis e revitalizou a linha ferroviária e a linha de bonde no centro da cidade.
As iniciativas de Toyama contemplaram principalmente a população idosa que até então dependia de carros particulares por conta das dificuldades de acesso ao transporte público. Além das políticas de mobilidade, a cidade fez o planejamento no uso do solo, concentrando moradias a curtas distâncias do sistema de transporte. Os resultados foram o aumento de até 230% dos passageiros de VLT até 2019 e a redução de emissão de carbono em 16% até 2016.
Kanazawa adotou medidas mais brandas, como a criação de novas rotas de ônibus dentro da estrutura já existente e o incentivo à mobilidade de pedestres e ciclistas. No entanto, o fato de os serviços de ônibus serem operados em maior parte por empresas privadas e sem interesse em investimento de longo prazo em mudanças estruturais contribuiu para resultados pouco significativos.
Conforme avaliam os autores, ambas as cidades poderiam engajar mais o transporte privado nas soluções de mobilidade sustentável, como o compartilhamento de carros e o investimento em veículos elétricos ou em opções não motorizadas. As experiências de Toyama e Kanazawa, no entanto, incentivam a discussão de estratégias para a eficiência e a sustentabilidade de outras cidades em declínio populacional.