Livia Kuga – Pós-graduanda do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP, Advisor e Consultora em Gestão de Pessoas e Estratégia.
No filme Não Olhe Para Cima, a personagem principal, uma pesquisadora, identifica um meteoro em rota de colisão com a Terra. As pessoas ao seu redor desacreditam sua descoberta e a rotulam como exagerada. Embora seja uma comédia, a narrativa reflete um fenômeno recorrente. Cientistas enfrentaram resistência ao questionar ideias estabelecidas, como Galileu e Darwin.
No século XVII, Galileu foi condenado por defender que a Terra orbita o Sol. Em 1859, Darwin publicou A Origem das Espécies e foi criticado por apresentar a teoria da seleção natural. Mais recentemente, surgiram movimentos contrários à ciência, como o terraplanismo e o movimento antivacinas. Na era das fake news, a influência de pseudociências e do negacionismo científico continua presente. Ainda assim, a ciência tem sido um dos principais motores do desenvolvimento da sociedade.
Mesmo diante da resistência, a inovação tecnológica reforça sua importância. A inteligência artificial (IA) exemplifica essa transformação. Nos últimos anos, ganhou espaço devido à sua aplicação na automação de tarefas. No entanto, a IA só se tornou realidade porque, ao longo de mais de sete décadas, pesquisadores e empresas aperfeiçoaram suas bases teóricas e práticas até torná-la acessível.
Empresas como Google e Amazon demonstram essa relação entre ciência e prática. O Google, criado por doutores em Ciência da Computação, estruturou sua cultura organizacional inspirada em princípios acadêmicos e mantém iniciativas como o Google Research, que apoia cientistas em novas descobertas. A Amazon, desde sua fundação, possui políticas voltadas para a contratação de pesquisadores por meio do programa Amazon Scholars. Além disso, Jeff Bezos implementou o 6-pager-memo, um documento que substituiu apresentações em PowerPoint e baseia decisões em evidências.
No Brasil, essa interação também ocorre em setores estratégicos. A Embraer, sediada em São José dos Campos, mantém parcerias com o ITA e investe em pesquisa e desenvolvimento na aviação. A Natura, referência na indústria cosmética, destina mais de R$ 300 milhões a projetos científicos, conectando comunidades da Amazônia a laboratórios de bioinformática.
As universidades buscam ampliar essa conexão. FGV, USP, Insper e Fundação Dom Cabral criaram doutorados voltados para profissionais do mercado, incentivando a troca entre teoria e prática. Esse blog é um exemplo desse esforço, resultado de uma parceria entre Estadão, alunos e professores da FGV para divulgar conhecimento científico aplicado ao contexto profissional.
Esse movimento, porém, não depende apenas de instituições. O leitor também tem um papel ativo. Identificar fontes confiáveis, distinguir fatos de opiniões e buscar informações baseadas em evidências são passos essenciais. A educação está acessível por meio de cursos online oferecidos por universidades brasileiras e estrangeiras.
Se grandes empresas e pesquisadores já reconhecem a ciência como fundamental para o progresso, surge a reflexão: estamos preparados para confiar no conhecimento científico e contribuir para o avanço da sociedade?
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão.