Mauro Loureiro Junior – Pós-Graduando do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP.
No mundo dos negócios, a estagnação não é uma opção. Empresas que buscam crescimento e consolidação no mercado global precisam equilibrar a maximização de lucro com a expansão. Essa estratégia, adotada por algumas das corporações mais bem-sucedidas, permite adaptação a diferentes realidades de mercado e garante competitividade. A Amazon exemplifica essa abordagem de maneira clara.
Richard Rumelt, estrategista renomado, argumenta que uma estratégia eficaz começa com um diagnóstico preciso dos desafios da empresa. No caso da Amazon, três fatores sustentam sua posição de liderança. Primeiro, o efeito setor: o e-commerce global segue crescendo acima do varejo físico, com projeções indicando faturamento de US$ 8 trilhões nos próximos anos. Segundo, o efeito corporação: a diversificação em serviços como computação em nuvem (AWS), streaming (Prime Video) e dispositivos tecnológicos (Kindle e Echo) fortalece seu ecossistema. Terceiro, o efeito empresa: a eficiência logística combinada com um amplo sortimento de produtos garante sua vantagem competitiva em mercados desenvolvidos.
O desempenho, entretanto, varia conforme a geografia. Em mercados emergentes, como o Brasil, a Amazon enfrenta desafios diante de concorrentes locais que possuem maior influência sobre fornecedores e relações mais diretas com consumidores. O modelo de valor de Brito e Brito (2012) ajuda a entender como empresas ajustam estratégias em diferentes níveis de maturidade de mercado. O modelo aponta que o valor criado por uma empresa não equivale ao valor apropriado, pois depende da disposição a pagar dos consumidores e do custo de oportunidade dos fornecedores. No caso da Amazon, isso se traduz na forma como adapta preços e negociações. Em mercados consolidados, onde tem posição dominante, captura maior parte do valor criado por meio do aumento de preços e taxas. Já em mercados emergentes, onde busca escala, transfere parte do valor a consumidores e fornecedores por meio de preços mais baixos e incentivos. No Brasil, por exemplo, a assinatura do Amazon Prime custa R$ 19,90 mensais ou R$ 166,80 anuais, enquanto nos Estados Unidos o mesmo serviço é vendido por US$ 14,99 mensais ou US$ 139 anuais, evidenciando uma estratégia de penetração.
Os resultados financeiros recentes refletem a eficácia dessa abordagem. No quarto trimestre de 2024, a Amazon registrou lucro líquido de US$ 20 bilhões, quase o dobro do mesmo período em 2023. A receita total do trimestre atingiu US$ 187,8 bilhões, impulsionada pelo aumento de 19% nas vendas da AWS, que somaram US$ 28,8 bilhões. No acumulado do ano, o faturamento chegou a US$ 638 bilhões, um crescimento de 11% em relação a 2023. Esses números reforçam a eficiência da estratégia para equilibrar crescimento e rentabilidade.
Além disso, a Amazon tem investido fortemente em inteligência artificial (IA). Em 2024, destinou cerca de US$ 105 bilhões para capital, um aumento de 35% em relação ao ano anterior, priorizando a expansão da AWS e o desenvolvimento de tecnologias de IA. Isso reforça que inovação e diversificação de negócios são essenciais para a sustentabilidade do crescimento.
A lógica estratégica é clara: conquistar mercado oferecendo valor competitivo a consumidores e fornecedores e, posteriormente, capturar uma parcela maior desse valor conforme consolida sua posição. O desafio futuro será manter esse modelo quando os mercados emergentes atingirem maturidade. A resposta provavelmente estará na inovação, na ampliação de serviços complementares e no desenvolvimento de novos segmentos. Independentemente do cenário, a estratégia dual continua sendo um fator-chave para o sucesso empresarial e um estudo relevante para profissionais interessados na dinâmica da competitividade global.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão